O objetivo deste artigo é discorrer sobre as comunidades políticas e morais1
formadas pelos familiares de mortos e desaparecidos da ditadura militar brasileira (1964 –
1985), podendo ser caracterizadas nas palavras de Azevedo (2019, p. 2) como uma articulação
nascida da coletivização dessas buscas entre as famílias e sua transformação em uma luta
política por imprimir nova dinâmica ao tratamento até então dispensado às violências
cometidas pelo Estado naquele período, de forma que a partir da apresentação do que são
essas comunidades possa caracterizar o chamado desaparecido político e suas respectivas
implicações não apenas no processo de reconhecimento de desaparecidos políticos e vítimas
da ditadura, mas também pontuar as desigualdades e exclusões que são formadas a partir da
construção desta categoria no que diz respeito a quais são os sujeitos passíveis de serem
reconhecidos como tais, busco analisar o que Pedretti (2022, p. 239) descreve como as formas
de classificação social moral que determinam a legitimidade (ou não) de determinados
sujeitos em se reivindicarem vítimas ou atingidos pela violência política, entendendo que a
vítima ou o atingido pela violência da ditadura era, antes de tudo, aquele cuja atuação política
era possível de ser reconhecida por um circuito que passava por outros militantes e pelos
próprios familiares (Pedretti, 2022, p. 171)