Ponencia

Os bailes funk para as favelas: mais do que uma forma de lazer e sociabilidade

Parte del Simposio:

SP.61: Juventudes, Cidades e Imagens

Ponentes

Fabíola de Carvalho Leite Peres

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Fruto de um processo de urbanização desigual, as favelas podem ser entendidas como áreas urbanas que são caracterizadas por processos de precarização. Essa forma de segregação espacial – que na cidade do Rio de Janeiro assume contornos bastante particulares – se caracteriza como um fenômeno tipicamente urbano e cria, recria, produz e reproduz diferentes códigos, valores, estéticas e performances. Dentre os maiores produtos das favelas brasileiras (com foco no Rio de Janeiro) estão os bailes funk.
Surgidos na capital fluminense na década de 1970, os bailes foram paulatinamente migrando para as áreas mais pobres da cidade diante da proibição de tais eventos em clubes das regiões nobres da zona sul. O boom dos bailes nos anos 2000 fez com que esta forma de lazer represente, até hoje, uma relevante maneira de ocupar o espaço urbano das favelas, que adquire características, códigos de conduta e padrões estéticos e de comportamentos específicos em cada comunidade em que é realizada.
A pesquisa etnográfica realizada até então permitiu identificar tais características, normas e padrões de um baile realizado na cidade do Rio de Janeiro. Sediado em uma das maiores favelas da zona norte da capital, este evento é conhecido por ser um “baile de comunidade” – categoria de baile que tem maior circulação de moradores da localidade e que tem moderada receptividade a frequentadores de “fora”. A realização de observações participantes em diferentes edições deste evento durante o ano de 2023 levantou reflexões sobre a relevância do baile para a comunidade e para o extremamente presente tráfico de drogas para além de uma forma de lazer, entretenimento e sociabilidade.
O objetivo desta apresentação, portanto, é recuperar os achados etnográficos da pesquisa de campo realizada até agora que permitem analisar um baile funk da zona norte do Rio de Janeiro para além de uma forma de lazer e sociabilidade, ou seja, que extrapolam sua abordagem apenas através deste viés. As contribuições de Cecchetto, Mizrahi, Diógenes e Cymrot auxiliam a alicerçar as discussões acerca do movimento funk, da historicidade dos bailes, das relações de poder envolvidas nos eventos e nas territorialidades incorporadas nos espaços urbanos, principalmente nas favelas.
Combinando os dados etnográficos obtidos nas observações participantes com a análise de algumas letras tocadas nos bailes experienciados, é possível identificar a relevância do evento para as duas principais instâncias da favela: a comunidade em geral e o tráfico de drogas. A realização do baile movimenta a economia local da favela, a exemplo da quantidade de pontos comerciais de diferentes áreas abertos durante a realização do baile. No caso da segunda instância, a promoção do baile possibilita um aumento das vendas de drogas e um importante reforço do controle do tráfico sob a comunidade. Este último ponto alicerçado sob estéticas, adornos e performances masculinas.