Resumo
O Tambor de Mina é uma religião de matriz africana que nasceu no estado do Maranhão e se propagou pelo restante do Brasil, mais especificamente no estado do Piauí e na Amazônia. É uma mesclagem do culto africano e o ritual ameríndio, com fortes traços sincréticos do catolicismo popular (M. Ferretti, 2000, p. 25). Com inspiração nos modelos de sociedades secretas, esta religião cultua seus deuses através de uma tradição oral passada dos mais velhos para os mais novos (S. Ferretti, 2009, p. 230). Ao observarmos que esta religião sofre grandes mudanças por cona da era tecnológica, onde as mídias digitais têm grande hegemonia, levantamos o seguinte questionamento: o que leva os afros religiosos do tambor de mina a criarem conteúdos religiosos na plataforma YouTube? Esta problemática nos leva a compreender, a partir de várias perspectivas, a inserção dos adeptos do Tambor de Mina no ciberespaço. A netnografia, abordagem utilizada nesta pesquisa, é uma forma de etnografia que utiliza a comunicação mediada por computadores como aquisição de dados para compreender um objeto estudado (Kozinetz, 2014, p.61). Nosso objetivo é analisar os principais motivos que levaram adeptos do tambor de mina na Amazônia a criarem conteúdos na plataforma Youtube, buscando entender o porquê estes religiosos expõem fundamentos doutrinários de sua fé. Uma das contribuições de nossa pesquisa diz respeito às análises sobre o modo com que o Tambor de Mina, tido como religião centrada na tradição oral, vai se incorporar às tecnologias comunicacionais e pelas mídias digitais. O estudo sobre o processo de midiatização das religiões afro-brasileiras tem sinalizado para as formas com que o Tambor de Mina se adapta à moderna sociedade da informação, indicando importantes efeitos e consequências futuras. Os resultados parciais desta pesquisa vêm mostrando que religiosos de segmentos afrodescendentes têm resistido a discriminação já vivenciada há anos nos meios de comunicação. Observou-se que as interações ocorridas em canais da plataforma estudada são praticantes ou simpatizantes do Tambor de Mina, onde claramente se observa a ausência de curiosos ou adeptos de outras religiões. Em contrapartida, se entrarmos em um canal oficial de algum dos padres famosos como Padre Zezinho ou Padre Fábio de Melo não é difícil encontrar afro-religiosos. Os canais que divulgam o Tambor de Mina não constituem representatividade religiosa, como os padres citados, mas este é o grande desafio que, não só o Tambor de Mina, mas toda a religiosidade afrodescendente almeja.
Palavras-chave: tambor de mina; youtube; ciberespaço; resistência.
Referências
FERRETTI, Sérgio F. Querebentã de Zomadonu: Etnografia da Casa das Minas. São Paulo: Pallas, 2009.
FERRETTI, Mundicarmo. Desceu na Guma: O caboclo no Tambor de Mina. Originais da 2ª ed. (1996). Pub. EDUFMA, São Luís, 2000.
KOZINETS, Robert V. Netnografia: Realizando pesquisa etnográfica online. São Paulo: Penso Editora, 2014.