Ponencia

O Reviver Centro e algumas anunciações sobre o espaço urbano contemporâneo do Rio de Janeiro

Parte del Simposio:

SP.12: “Hacer y habitar” la ciudad latino-americana contemporánea

Ponentes

Diego Pontes

Universidade Federal de Santa Catarina

ALICIA NORMA GONZALEZ DE CASTELLS

universidade federal de santa catarina

As narrativas encontradas em uma gama de estudos antropológicos, literários, historiográficos e urbanísticos sobre a cidade do Rio de Janeiro, Brasil, apontam para ambivalentes processos de transformações em suas paisagens urbanas, sobretudo a partir do século XX. Alicerçada em complexas dinâmicas sanitaristas e excludentes, a cidade passou por um caleidoscópio de significativas e arbitrárias reconfigurações e reformas urbanas que deslocaram os sentidos atribuídos ao seu cotidiano e a própria ideia de vida urbana que nele se escreve.
Desse modo, este trabalho tem por objetivo aprofundar o olhar sobre o centro do Rio de Janeiro pelo recorte de suas transformações atuais por meio da análise do recente anunciado “plano de recuperação urbanístico, cultural, social e econômico da região central”, Reviver Centro. O projeto foi lançado e apresentado à população em julho de 2021 em cerimônia oficial em um centro cultural na Lapa, tradicional bairro central do Rio, contando com a presença do então prefeito Eduardo Paes e outras autoridades políticas e empresários locais.
A imprensa local noticiou com entusiasmo e alarmismo as melhorias que estariam a caminho com o plano de recuperação de uma área marcada por problemas urbanos históricos, como violência e insegurança, abandono e degradação do patrimônio, além do recente esvaziamento desencadeado pela pandemia de Covid-19. Segundo as reportagens da época, as estratégias destinadas aos novos investimentos dariam nova vida ao centro e entregaria benefícios para a região e a população carioca, “resgatando a [assim chamada] verdadeira alma da cidade”.
O plano visiona, por meio de isenção tributária e incentivos fiscais, o “renascimento” do centro estimulando a especulação imobiliária e mirando enfaticamente o turismo, a mobilidade urbana, a criação de novas área verdes e, conforme apresentado, “a ativação do espaço público através da arte”. Dentre os objetivos do projeto, destaca-se a revitalização de áreas que compõem o centro do Rio de Janeiro, que seriam transformadas em “espaços mais seguros”, acessíveis e atrativos para moradores, comerciantes e a circulação de turistas.
Por essa direção, este trabalho apresenta e busca refletir sobre um plano que se anuncia baseado em um discurso alicerçado na promoção de uma concepção de “cidade sustentável”, onde exalta-se a melhoria da qualidade de vida, a recuperação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural. Assim, como visto, as narrativas direcionam um projeto que visiona novos investidores e moradores com destino ao centro da cidade, local que concentraria trabalho, comércio, habitação e lazer. Brotam, com isso, expectativas de um renascer mirando a projeção de um potencial movimentado mix cultural a partir da implementação do Reviver Centro, aquecendo o mercado imobiliário, o turismo e as marcas das desigualdades que compõem o espaço aqui investigado.