Fruto da experiência travada para dissertação de mestrado que buscou, a partir de diálogos, conversas, acompanhamentos e diversos exercícios de escuta com seis interlocutoras, explorar a forma em que a expressão dos afetos e a construção de vínculos com outros significantes estão relacionados com a dimensão racial. Neste trabalho, veremos como doenças sexualmente transmissíveis foram determinantes como limites não só sexuais, mas de relacionamento, familiares e emocionais para mulheres negras residentes num bairro considerado periférico na cidade de Natal/RN, no Nordeste brasileiro, e que estão na faixa etária dos cinquenta aos setenta e cinco anos de idade. A pesquisa pretende contribuir com a reflexão sobre um assunto que não tem sido aprofundado nos estudos que tomam como cerne o tema da raça no Brasil; a saber: a afetividade. Assim, a dimensão afetiva atravessa o texto e as reflexões aqui propostas sobre corpo, saúde, beleza, amor, velhice. Simultaneamente a pesquisa visa contribuir com a reflexão sobre as complexidades das relações raciais no Brasil contemporâneo. A maioria de estudos sobre a raça no Brasil reconhece os efeitos contemporâneos do sistema colonial sobre a vida da população negra em matéria socioeconômica e política. Esse texto se inscreve na linha dos trabalhos –menos abundantes– que consideram que à população negra também foi-lhe negada a liberdade da expressão de suas emoções, de sua subjetividade afetiva e da oportunidade de constituir e manter laços e família. Ou seja, reconhece que a dimensão afetiva também carrega as marcas da história de dominação e subalternização das pessoas negras no país. Assim, as páginas a seguir buscam entender em que medida algumas experiências das interlocutoras, informadas pela raça, pelo gênero, pela classe, pela sexualidade e pela geração se interseccionam e impactam na construção de vínculos afetivos.