Ponencia

“o que parece é que a escola não quer formar alunos”: pesquisa como espaço para acionar caminhos ao acesso de direitos.

Parte del Simposio:

SP.21: Experiencias educativas y escolares de jóvenes en contextos de desigualdad social. Debates y reflexiones desde la investigación antropológica

Ponentes

Carolina Abreu dos Santos

Universidade de Brasília

A educação é um dos pilares históricos que contribuem para evidenciar a sociedade desigual existente no contexto brasileiro, que tem como base o racismo em sua formação. Este é um dos setores em que as hierarquias raciais estão mais marcadas, reforçando o lugar subalterno de algumas populações em detrimento de outras e acentuando as desigualdades sociais e raciais ao constrangir “o acesso a certas condições materiais de vida, relacionadas a formação, informação, cuidados e oportunidades” (Theodoro, 2023: 230).

Com campo de pesquisa inserido no ambiente de uma escola pública de Ensino Médio, localizada em região administrativa periférica do Distrito Federal no Brasil, este trabalho tem como objetivo colocar em debate relato de experiência e reflexões parciais de pesquisa etnográfica realizada entre agosto e novembro de 2023. A pesquisa visou compreender os processos de percepção, subjetivação e entendimento pessoal de estudantes do Ensino Médio no Distrito Federal sobre identidade, autoclassificação e identificação racial, especialmente para os autodeclarados pardos, por meio de uma investigação de trajetória de vida via entrevistas. Foram entrevistados sete estudantes de 1º ano do Ensino Médio, que possuem entre 15 e 17 anos de idade, dentre os quais 6 são autodeclarados/as pardos/as, sendo 4 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Também foi entrevistado um autodeclarado branco do sexo masculino. Conforme verificado em investigação com base em trajetória de vida, os estudantes interlocutores no geral experienciam diversos aspectos que os colocam em lugar de desigualdade, considerando os contextos sociais em que estão inseridos e a forma como se deram suas socializações.

Notou-se em observação-participante em sala de aula e durante as entrevistas que muitos estudantes não reconhecem bem os instrumentos educacionais que são de seus próprios direitos para terem acesso à universidade, como o PAS e o ENEM, por exemplo, e ainda menos das possibilidades de inserção na universidade por meio de políticas públicas e ações afirmativas como as cotas sociais e raciais. No geral, os estudantes não tem ou tem pouco conhecimento sobre as cotas. Alguns já ouviram falar mas não sabem do que se tratam. Dessa forma, a campo se desdobrou de forma a promover conhecimento sobre possibilidades de acesso ao longos dos diálogos estabelecidos em campo. Entrevistas foram utilizadas para, ademais de investigar sobre o tema de pesquisa, explicar para os estudantes interlocutores sobre caminhos que são deles, sobre oportunidades que podem acessar; mas não no sentido heróico, ou num sentido de trazer uma trajetória ideal, mas de apresentar possibilidades que lhes são de direito e que o sistema educacional público brasileiro infelizmente não consegue, ou não quer, fazer chegar a essa parcela da população, que é majoritariamente preta e parda, como pontuado por interlocutor e demonstrado na frase que entitula este texto. A pesquisa também proporcionará uma devolutiva à escola de ações possíveis e necessárias a serem tomadas para poder minimamente reverter essa lógica dentro do ambiente da escola.