O pleito eleitoral de 2022, no Brasil, como um todo, resultou em parlamentos bastante diversificados em relação a eleições passadas na Câmara Federal e nos diversos estados. Surgiram deputadas trans, indígenas e uma expressiva bancada negra. A região sul do Brasil é reconhecida como a única de maioria branca, no País, sendo o Paraná o estado com a maior população negra desta região. Foram eleitas uma deputada federal, um deputado estadual e uma vereadora auto declarados “pretos”, em função de sua cor. A memória de suas trajetórias políticas e os atuais embates no espaço político municipal, estadual e nacional permitem atualizar a discussão sobre o racismo no Brasil, em suas dimensões institucionais e estruturais, uma vez que, mesmo na condição de representantes eleitos, continuam sofrendo uma série de discriminações, perseguições e constrangimentos, que atingem pessoas negras no dia a dia da vida brasileira. As questões levantadas pela população negra, como um todo, e seus representantes, continuam colocadas em segundo plano, pelos diversos políticos brancos, sejam de direita ou de esquerda, sem justificativas distintas. A cor “preta” aparece como definidora de um espaço político realmente identitário, distinto dos pardos mais claros e mais politizável com sucesso. A ação política destes parlamentares pretos tanto explora bem esse novo espaço, que eles mesmos criam, quanto chama a atenção para as recorrentes situações que eles enfrentam, diante da branquitude evidente da cena política brasileira. Por isso mesmo, é interessante repensar as velhas e novas questões das relações raciais no Brasil, a partir da atuação destas pessoas. Cor, Raça, Etnia, Classe, Gênero e Sexualidade aparecem nessas trajetórias e como temas de suas performances políticas. Além dos três parlamentares, foram ouvidos assessores dos mesmos e outros atores sociais pretos, com trajetórias bem conhecidas nos campos políticos e culturais de Curitiba, que ajudam a entender melhor esse campo político em formação. Todas essas pessoas da classe política paranaense têm um entendimento e suas próprias questões sobre estes temas, que são importantes para uma reflexão sobre os rumos atuais da vida política brasileira, como, por exemplo, a questão do “voto negro” no Paraná, no sul do Brasil e no país como um todo. Quem está elegendo estes candidatos? Para quem direcionar suas campanhas nas próximas eleições?