Trata-se dos resultados parciais de uma pesquisa de doutorado realizada no programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (PPGS/UECE). No estudo em tela é destacada a experiência do parto e a construção da maternidade, com ênfase na experiência do parto de mulheres de baixa renda da cidade de Teresina (Piauí), assistidas pelo Sistema Único de Saúde na maternidade pública de referência do estado.
Sobre o momento em questão, cabe mencionar que, na compreensão do senso comum é em primeira instância pensado tão somente como a chegada de um novo ser ao mundo. Embora, também seja isto, não se resume exclusivamente a esse fato.
Ao usarmos os conceitos antropológicos, é possível refletir sobre o significado da experiência de parto como um “ritual de passagem” que a mulher vivencia e que instantaneamente passa a ser atribuído a ela novas demandas, responsabilidades, comportamentos e ações socialmente impostas. Mas, se não forem não correspondidas, passam a ser os crivos para validar ou não a maternidade das mulheres para com seus filhos.
Ressalta-se que os aspectos fisiológicos trazem consigo a função biológica do que a sociedade impôs às mulheres: a procriação. Isso posto, com uma visão mais crítica e feminista, há de ser considerada a redução das mulheres a condição de mães, ou limitadas ao exercício da maternidade.
Dessa forma, é possível afirmar que o corpo feminino levanta pautas coletivas sobre a sua dimensão social, ou seja, existe uma articulação entre a fisiologia e a condição social de gênero como fenômenos agregados à condição de existência das mulheres na sociedade, já que “o caráter fundamentalmente social das distinções está baseado no sexo” (SCOTT, 1995, p. 72).
Por sua vez, as relações de poder e gênero tendem a estabelecer uma hierarquia entre homens e mulheres a partir da diferenciação biológica, de modo a definir papéis e posições que legitimam e perpetuam um tipo de relação na qual os homens desempenham papéis e ocupam posições privilegiadas, enquanto às mulheres são reservados papéis e posições sociais considerados inferiores (SCOTT, 1995).
Diante do exposto, levantamos o questionamento: o que a sociedade espera de uma mulher de baixa renda que se torna mãe? Para responder, foi utilizado como percurso metodológico o trabalho etnográfico, sob a influência de Malinowski (1978). A peculiaridade desse método consiste na experiência que o pesquisador adquire com a sensibilidade e a capacidade para apreciar a companhia dos sujeitos pesquisados, pois existe uma diferença enorme entre um contato esporádico com os sujeitos pesquisados e o contato real com eles.
Diante do exposto, o estudo tem o objetivo de discorrer sobre os marcadores sociais e econômicos de gênero que são direcionados para as mulheres de baixa renda ao se tornarem mães. Portanto, visamos contribuir com as reflexões sobre a maternidade e os seus desdobramentos a partir do olhar socioantropológico.