Ponencia

O movimento antigordofobia no Brasil: abordagens, perspectivas e formas de luta

Parte del Simposio:

SP.54: Disidencias sexo-génericas y corporales con perspectiva antropológica

Ponentes

Gabriele Costa da Silva

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

O corpo é constituído através de diversos marcadores sociais da diferença, que são culturalmente informados, socialmente estabelecidos e hierarquicamente categorizados. Sendo assim, determinados corpos são enquadrados em locais ditos marginais, correspondentes ao “desvio”. É o caso do corpo gordo, elemento condutor das discussões que circundam esta etnografia virtual. Hodiernamente, as representações sociais que circundam o corpo gordo são, majoritariamente, pejorativas. A mais diversa sorte de estigmas é atrelada às pessoas gordas, devido a um suposto “excesso de adiposidade”: doença, descontrole, feiura, preguiça, invalidez, entre muitas outras características dadas como inatas. Neste artigo, a categoria estigma é tratada a partir da ótica de Erving Goffman, e corresponde a relação entre atributo e estereótipo, na qual o estigma surge quando estereótipos depreciativos são relacionados a determinadas marcas ou atributos corporais – nesse caso, o corpo gordo. A partir de uma etnografia virtual realizada nas mídias digitais, identifico que, em meados da década de 70 até agora, diferentes sujeitos e coletivos têm se empenhado em mostrar que o estigma contra os corpos gordos desencadeia processos de violência, desumanização, hostilização e descaso, caracterizadores da gordofobia. Assim, a violência decorrente desse preconceito desencadeou movimentos de luta responsáveis pela elaboração de discursos de contestação ao discurso hegemônico gordofóbico, que estigmatiza o corpo gordo. Nomear como “gordofobia” uma série de sofrimentos outrora considerados de ordem privada e subjetiva corresponde ao movimento de torná-los um problema social, de ordem coletiva e de caráter político. Colocar esses sofrimentos no plano dos problemas sociais permite, entre outras coisas, combatê-lo. Isso porque conseguimos enxergá-lo de forma crítica, complexa e analítica, identificando padrões, razões de ser, modus operandi. Devido aos atravessamentos e entrecruzamentos dos marcadores sociais da diferença, os corpos vivenciam e experienciam o mundo social de forma diversa, a depender de onde estão situados. Interessa a este texto, portanto, evidenciar que o corpo gordo, não é hegemônico, não é uma realidade dada e estática. Ele é diverso e múltiplo, o que implica dizer que a gordofobia o afeta de maneiras distintas. Estes corpos, mesmo dotados de características morfológicas comuns, são marcados por diferentes contextos sociais, culturais, territoriais, econômicos e políticos. Em virtude disso, suas experiências de mundo são particulares, ainda que possuam similitudes e dependem das intersecções engendradas entre seus marcadores sociais da diferença. Neste artigo, a partir de uma perspectiva interseccional, são apresentadas algumas abordagens que constituem o movimento antigordofobia brasileiro: dentre elas há as que se assumem radicais, outras que estão mais alinhadas a certa conduta liberal e mercadológica, além de abordagens atreladas a produção de conhecimento acadêmico científico ou a produção artística. Busco, assim, desvelar de que modo as abordagens se configuram, quais as disputas e discursos em tensionamento entre elas e de que modo elas constituem o campo e os sujeitos que dele fazem parte.