A predição de uma cigana, um preâmbulo importante para contar esta história, indicou que o seu sucesso estava guardado para a velhice. O sinal especial que forma uma estrela em sua mão, ora mais difícil de encontrar do que na década de 1950, foi apontado pela velha cigana enquanto Aida perambulava pelas ruas da cidade. Hoje, com 90 anos, Aida Ferrás é conhecida como “A Dama do Cinema” para os leitores e frequentadores do antigo Cine Santander. É também “A Mulher que respira cultura”, de acordo com o Jornal do Comércio quando esse buscou registrar os personagens que circulavam pelo centro da cidade de Porto Alegre. Recentemente, foi reconhecida pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul como destaque no cenário audiovisual gaúcho. Aos 15 anos de idade, Aida começou a registrar os títulos dos filmes que assistia em cadernetas, que mais tarde foram organizadas em um caderno maior, que é atualizado até hoje. Ela é conhecida pelos bilheteiros e outros espectadores por frequentar de forma assídua os cinemas dos bairros Centro Histórico e Cidade Baixa, que atualmente são cinco, mas já foram trinta e seis. Assumidamente fascinada pelo cinema, Aida é uma personagem que corporificou a capital gaúcha, principalmente por meio dos cinemas de rua, como uma típica habituée. Nesta pesquisa, reúno fragmentos do cotidiano, sendo eles relatos, memórias, registros fílmicos e fotografias etnográficas e de acervo, numa espécie de trabalho com “recortes” e “colagens” da vida fabulosa de Aida. Minha intenção reside em construir uma etnografia da duração (Eckert e Rocha, 2010) combinada com a metodologia verbo-visual das fotobiografias (Bruno, 2009). Quando conjugadas, ambas as metodologias permitem identificar emaranhados e reminiscências que roteirizam a existência e a construção de uma personagem citadina. Em suma, este trabalho é sobre a disposição de ouvir e perambular por períodos históricos outros e estilos de vida que são verdadeiros achados etnográficos.