Ponencia

O CASO HOLIDAY: Expulsão e Resistência

Parte del Simposio:

SP.39: Etnografías de la/en la vida urbana: territorios, espacios públicos y vulnerabilidades sociales

Ponentes

Mônica Maria Gusmão Costa

GAEP/UFMA - LACC/UPE

O presente trabalho deseja apresentar a vulnerabilidade social dos moradores que foram expulsos de um edifício localizado na zona nobre da cidade do Recife-Brasil, especificamente na beira mar da praia de Boa Viagem, chamado Edifício Holiday. O prédio foi construído no ano de 1956, com arquitetura moderna e ousada para a época, possuindo 17 andares e 476 apartamentos, denominados “kitnet’s”. Inicialmente, adquirido para veraneio por famílias financeiramente abastadas do Recife e por estrangeiros – majoritariamente norte-americanos e alemãs, aos poucos foi se tornando local de encontros amorosos clandestinos, mas também lá residiam famílias da classe trabalhadora, onde criaram seus filhos, os quais passaram a residir no prédio. Alguns estabelecimentos comerciais foram abertos na área comum do prédio, no térreo, bem como uma Igreja Católica que prestava serviços sociais à comunidade (atendimento médico-odontológico, entre outros). O Holiday tornou-se um incômodo para seu entorno: nos prédios vizinhos altos e modernos, e “flats” (os antigos kitnets), moram empresários, juízes, advogados bem-sucedidos, desembargadores, etc. O Holiday tornou-se uma comunidade vertical implantada bem no centro da praia de Boa Viagem, com uma vista privilegiada para o mar. No início do ano de 2019, a Prefeitura do Recife entrou com uma ação judicial para desocupar o Holiday, alegando risco de incêndio e estrutural. O processo, de forma pouco convencional em termos técnicos jurídicos, foi parar nas mãos de um juiz midiático, que logo tratou de expulsar os moradores do prédio, fechou os estabelecimentos comerciais e interditou a Igreja, tratando, também, de inviabilizar qualquer tentativa de retorno dos moradores. Foram apresentadas ao juiz várias soluções de reformas elétricas – patrocinadas pelo curso de extensão de engenheira da Universidade de Pernambuco, bem como por um grupo de resistência que se formou envolvendo voluntários: engenheiro(a)s, arquiteto(a)s, advogado(a)s, professore(a)s, antropóloga, além dos moradores. Tendo como campo de pesquisa o Edifício Holiday e o respectivo processo judicial, o presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre o mecanismo de expulsão dos moradores, através de pesquisa etnográfica (entrevistas, fotos, vídeos de audiências, análise documental, entre outros), demonstrando que o judiciário tornou-se, no presente caso, legitimador da agressão ao direito à cidade e violador da Lei Federal, com a clara estratégia da especulação imobiliária e do processo de “limpeza social”, pela remoção do incômodo da comunidade do Holiday na área nobre do Recife. Interessante notar que o processo judicial rendeu, provavelmente, a introdução do juiz do caso na vida política, uma vez que circulam fotos do mesmo em veículos onde se ler: “juiz do povo”. Enquanto isso o Holiday se deteriora pelo abandono e seus moradores encontram-se espalhados na periferia da cidade, na esperança de voltar às suas moradias.