Ponencia

No solo fértil do revisionismo: o agronegócio mira a escola.

Parte del Simposio:

SP.44: Democracia en peligro: proyectos políticos en disputa y alternancias en gobiernos latinoamericanos – ¿Qué hay de nuevo?

Ponentes

Vanessa Pipinis

Universidad de São Paulo

As pesquisas que enfocam as disputas entre atores privados e o Estado em torno de projetos políticos indicam que os grupos dominantes foram bem-sucedidos em um certo “processo de metamorfose”, mantendo-se no poder ao longo das mudanças sociais e econômicas que ocorreram no Brasil nas últimas décadas. A proximidade de determinados atores privados com o centro do poder e com as principais agências do Estado brasileiro se materializa em diversas camadas, sendo a investigação da própria dinâmica política nacional e a pesquisa dos mecanismos de dominação elementos relevantes para compreender essa complexa relação. O estudo desses grupos, dessa forma, não pode ignorar suas relações privilegiadas nas e através das instituições e aparelhos de poder do Estado. Ainda que as instituições brasileiras tenham passado por recente aprimoramento, determinados atores privados permanecem em posições de poder, operando e/ou influenciando a política estatal e sua burocracia, como demonstram os recentes trabalhos no campo da antropologia do Estado e do poder (TEIXEIRA; LOBO; ABREU, 2019). Neste cenário, é possível compreender que determinados grupos dominantes se associam, formulam ideologias, perspectivas e valores sobre o mundo, agindo, junto ao Estado, na defesa de interesses próprios (CAMPOS; BRANDÃO, 2019). O trabalho fundante de NADER (1972) já chamava a atenção para a necessidade de estudar “os de cima”, direcionando as lentes analíticas da pesquisa para as camadas superiores, em uma perspectiva relacional. Nesta ampla e relevante agenda de investigação, o presente trabalho parte da perspectiva de que estudar “os de cima” requer também analisar suas formas de atuação contemporâneas. Assim, a hipótese central do presente trabalho é a de que a criação de movimentos empresariais viabiliza a articulação de redes de atores privados, e, em última análise, oportuniza diversos atravessamentos na política estatal. Tais redes e/ou movimentos tem ganhado espaço crescente na formulação de políticas públicas, bem como na definição dos seus sentidos e discursos. ONGs e institutos com viés empresarial, think tanks e centros de pesquisa, movimentos associativos entre outros atores, se articulam, assumindo um certo “empresariamento de determinadas funções sociais do Estado”, numa roupagem de “nova direita brasileira” (CASIMIRO, 2018). Buscando dialogar e contribuir com os estudos sobre os riscos impostos à democracia contemporânea, o presente trabalho propõe uma análise antropológica exploratória sobre a emergência de dois atores privados brasileiros, buscando identificar e analisar suas práticas em diálogo com políticas públicas, frentes parlamentares e ministérios. Assumindo uma perspectiva interdisciplinar e transversal, o trabalho discute a atuação dos movimentos “De Olho no Material Escolar” e “Movimento Todos A Uma Só Voz”, que buscam fomentar um “novo olhar” sobre o agronegócio brasileiro.