Paralelamente às punições sofridas por Torcidas Organizadas (TOs) ao longo dos anos 2000 e principalmente 2010, novas formas de associar-se e torcer têm emergido nas arquibancadas cariocas. A partir de dissidências de TOs mais antigas ou da insatisfação de torcedores comuns, ou seja, não-organizados, que por vezes se sentem pouco ou nada representados pelos agrupamentos existentes, surgem esses novos agrupamentos que possibilitam criar e/ou manter uma sensação de pertencimento e vínculo através desses espaços de sociabilidade torcedora.
Além de aspectos políticos e crises sociais que permearam a realidade brasileira principalmente entre 2013 e 2022 (período marcado por polarização política, pelas Jornadas de Junho de 2013, por golpe e por um governo de extrema-direita), minha hipótese é de que esse deslocamento para outras formas de associação busca escapar de uma lógica hierárquica e uma hegemonia que contemplam um padrão cis heteronormativo com certo ideal de masculinidade viril. Dessa forma, é visando proporcionar um ambiente mais acolhedor, sobretudo para mulheres, pessoas lgbtqia+ e pessoas “à esquerda” que surge o ‘Diversidade e Democracia’, núcleo do movimento Ninguém ama como a gente (Nacag).
O Nacag surge em 2019 tendo como objetivo “realização de festas e ações em prol do BOTAFOGO”, conforme descrição retirada da página oficial do movimento nas redes sociais. É um movimento recente de torcedores do Botafogo de Futebol e Regatas organizado a partir da associação de membros dissidentes de torcidas organizadas e de torcedores não-organizados. As festas idealizadas pelo Nacag incluem produção e organização de mosaicos, faixas, bandeiras, recebimento da equipe nos jogos, além de ações sociais. Além das festas, outras ações sociais e de exaltação ao clube compõem o projeto.
Em 2023 surge o núcleo ‘Diversidade e Democracia’, uma seção mais abertamente política do Movimento, em prol da diversidade e visibilidade de gênero, sexualidade e raça, pela “defesa de todos os botafoguenses, sobretudo dos grupos mais marginalizados e que sofrem diariamente com os preconceitos enraizados na sociedade”. Nesse trabalho busco entender a importância desse tipo de associação para torcedores lgbtqia+ e para torcedoras do sexo feminino, bem como de que maneira esses espaços de sociabilidade influenciam na experiência do torcer, nas relações estabelecidas, na sensação de pertencimento e segurança envolvendo o esporte. Para tal, realizo trabalho de campo no Estádio Olímpico Nilton Santos (ou Engenhão, como é conhecido o estádio da zona norte do Rio de Janeiro, RJ onde o Botafogo manda seus jogos) em dias de jogo ou de elaboração das festas, de confraternizações do grupo e também entrevistas semi-estruturadas com integrantes e líderes do movimento.