Ponencia

“Nasci e me criei nesse território aqui”: Saberes, Memórias e Resistências nas Comunidades Tradicionais do Norte de Minas Gerais

Parte del Simposio:

SP.69: Sistemas científicos en América Latina y el Caribe: violencias estructurales y resistencias

Ponentes

Adinei Almeida Crisóstomo

UFRN

Andrea Maria Narciso Rocha de Paula

Unimontes

Rômulo Soares Barbosa

Felisa Cançado Anaya

O presente trabalho faz parte das nossas pesquisas sobre os saberes, às memórias e as resistências das comunidades tradicionais do Norte de Minas Gerais, frente aos processos de impactos causados por grandes empreendimentos na região. A presença de setores da mineração, do agro e hidronegócio cada vez mais presentes em terras tradicionalmente ocupadas, demonstram uma conjuntura sociopolítica extremamente desfavorável. Por outro lado, os movimentos sociais buscam novas estratégias para articular ações de resistência. O registro das memórias dos mestres dos lugares tradicionais, através do registro das narrativas de lideranças locais velhos e novos, promovem espaços de diálogo e pluralidade de saberes tradicionais. A motivação para a pesquisa está embasada no campo social através da investigação de relações objetivas, com lógicas próprias que perpassam a realidade vivida pelos grupos etnicamente diferenciados impactados principalmente pela pandemia da COVID-19 e pelos grandes empreendimentos minerários e de agro e hidro negócios, com o objetivo de escutar, registrar, narrar às memórias que constituem princípio da organização social dos grupos e que auxiliam para o processo de identificação social e para a mobilização de ações coletivas na luta pelo reconhecimento territorial e pelos direitos sociais. A equipe que compõem o projeto que será desenvolvido, são pesquisadores que possuem experiência comprovada com pesquisas junto aos povos tradicionais e estabelecem uma “relação de pesquisa” como posta por Bourdieu (2003), através da vigilância epistemológica e da centralidade nos agentes sociais que fazem o viver nos seus territórios de vida. Outro fator preponderante nesse contexto de perda de território é o alto índice de processos migratórios por expulsão e expropriação dos megaempreendimentos que impactam diretamente os modos de vida e a ressignificação da memória nas comunidades tradicionais. As ameaças ao território também são ameaças às memórias e a continuidade de vida nas comunidades tradicionais, conforme destacado por Almeida (2017) ao apontar os efeitos devastadores da implantação concomitantes de barragens, bases de lançamento de foguetes, ferrovias, rodovias, portos, minerodutos, gasodutos, oleodutos, linhas de transmissão de energia e hidrovias, sobre o modo de vida de povos e comunidades tradicionais (ALMEIDA 2017 p.51). Nesse sentido, o registro das memórias, vivências e conhecimentos das/dos conhecedores/sabedores tradicionais, assim como os novos campos de conhecimento advindos dos demais agentes sociais dessas comunidades contribuem na organização comunitária e para a identidade coletiva no combate às ameaças territoriais, como forma de proteção e resistência. O conhecimento não é produzido de forma verticalizada, mas resultante das relações de pesquisa que tomam como pesquisadores, acadêmicos e agentes sociais na articulação de saberes. A pesquisa visa produzir interpretações das situações locais com mais acuidade e potencial de identificação de outras territorialidades. São essas mesmas territorialidades, relacionadas aos saberes e formas de vida garantidas por povos e comunidades tradicionais que possibilitam a preservação da sociodiversidade existente. Assim, o trabalho de pesquisa utiliza a colaboração de várias áreas do conhecimento para priorizar as histórias e saberes tradicionais de todas as famílias das comunidades, com foco maior nos saberes e nas práticas com a natureza.