Neste trabalho propõe-se etnografar narrativas e práticas sobre a trajetória da bailarina Mercedes Baptista (2014-2021) que passa permanentemente por transformações. Mercedes é conhecida como a primeira bailarina negra do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1948, além de criadora do balé afro-brasileiro nos anos 1960, quando combinou referências da dança de terreiros de candomblé. Aspectos de sua vida e trajetória têm sido nas últimas décadas revisitados, retomados em livros, em enredo de escolas de samba e evocam o debate sobre o lugar social de mulheres negras na vida cultural no Rio de Janeiro entre os séculos XX e XXI. Para a análise, levo em conta narrativas escritas sobre a trajetória de Mercedes, depoimentos e, mais recentemente, a observação de campo das dinâmicas e performances que acontecem no entorno da estátua de Mercedes, erguida em sua homenagem no Largo de São Francisco da Prainha, na região portuária do Rio de Janeiro, próxima ao Cais do Valongo. Esta região é emblemática pois o Cais do Valongo ganhou o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, em julho de 2017, por ser o vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas. Desde então tem sido frequente a visita de turistas e um maior fluxo de passeios na região que passam pela estátua de Mercedes como ponto de atração e interação.