Ponencia

Narrativas e cotidianidades amazônicas em torno de rios urbanos

Parte del Simposio:

SP.29: Procesos de producción urbana de las ciudades latinoamericanas en diferentes escalas. Transformaciones socioproductivas, memorias, sensibilidades e imaginarios

Ponentes

Victória Ester Tavares da Costa

Universidade Federal do Pará

O crescimento urbano desordenado, característico de várias metrópoles da América Latina encontra, nas cidades amazônicas, particularidades inerentes aos contextos socioeconômicos e heranças históricas de exploração e ocupação. Os imaginários criados acerca da região desde o período colonial ainda reverberam nas percepções contemporâneas sobre a cotidianidades amazônicas. Belém do Pará, locus desta pesquisa e um dos municípios que protagonizaram momentos de ascensão e queda por fatores intimamente ligados a explorações de várias ordens, teve sua ocupação e desenvolvimento significativamente afetados por dinâmicas estrangeiras. Este texto agrega reflexões realizadas no âmbito da feitura etnográfica, assim como a observação de interações entre e com interlocutores de campo. O setor artístico-cultural tem se utilizado de diversas ferramentas de estímulo e expressão das experiências da e na cidade a partir das perspectivas de seus moradores e transeuntes, aqueles que constroem e compõem as paisagens citadinas. Assim, seja em registros cotidianos divulgados em mídias sociais digitais, seja em produções audiovisuais realizadas por equipes profissionais, estes agentes da cultura têm colocado a si e suas vivências como ferramentas de perpetuação das memórias de suas vizinhanças, das práticas de seus bairros, bem como de seus fazeres coletivos que produzem as urbanidades em que vivem. Hoje, em um contexto no qual as notícias de crimes, desastres ambientais e descuidos com o ecossistema da região ganham grandes proporções e tomam, novamente a área da Amazônia e suas problemáticas como homogêneas, estas pessoas vêm trazer as nuances dos seus lugares. Em uma região serpenteada por rios extensos e volumosos, estas pessoas falam dos rios que passam na sua rua ou no seu quintal, do igarapé (braço de rio) que faz parte de sua infância ou do rio que foi canalizado e guarda outras relações hoje. Ao falar do seu dia-a-dia, das relações ordinárias com seu entorno, estas pessoas manifestam seus desapontamentos, suas denúncias, assim como sua forma de, sensivelmente, produzir imaginários cuja simbólica lhes fale diretamente, mas também atue, de algum modo, em transformações que se tornem menos verticais e em favor de poucos.