Esta proposta de trabalho aborda, em geral, dimensões que partem da Antropologia da Morte, Antropologia das Emoções e da Antropologia Urbana, para compreender as dinâmicas estabelecidas no Cemitério Santa Izabel, localizado em Belém do Pará, na Amazônia, através de deambulações no que concebo e chamo de cidade cemiterial, conceito central desenvolvido na feitura do texto dissertativo, que agora calça parte dos escritos da tese. Este conceito, atrelado ao âmbito urbano, captura parte da ambiência que abarca todos os perímetros da necrópole que tenho percorrido frequentemente nos últimos anos. As narrativas dos que transitam, trabalham e vivem o espaço atrelam à cidade dos mortos dimensões citadinas materiais e simbólicas que integram e aproximam à cidade de Belém, dimensões sensíveis das ocorrências de dentro que interferem na vida vivida fora do cemitério. Assim, através da etnografia de rua como um dos aparatos na tessitura deste trabalho, adentro/exploro os espaços presentes no cemitério e nas imediações de suas calçadas através das minhas caminhadas sem destino fixo – mas com intencionalidade etnográfica –, buscando perceber/enxergar detalhes que despertem a atenção e a curiosidade da percepção de eventos/episódios/situações vividas no coletivo, mediante as observações diretas e atentas às ações dos sujeitos naquele contexto – considerando, ainda, todas as formas de diálogos estabelecidos – que envolveram, por isso mesmo, deslocamentos constantes de minha parte no cenário urbano cemiterial. Noto, então, que a morte, percebida como extensão da vida na vivência cemiterial, dita modos de viver e condicionam corpos à posicionalidades que atravessam, mas ultrapassam a cidade cemiterial. Diante da observação sistemática nas ruas da cidade cemiterial e da etnografia dos cenários, noto que os personagens conformam a rotina da necrópole e a constituição das relações ali presentes, dos imprevistos, das situações de constrangimento, das tensões e dos conflito e dos diálogos com os habitués que visitam o local e, mesmo, os santos milagreiros/populares, e que subvertem o viver e morrer no cotidiano da cidade dos mortos.