Ponencia

Não posso me esquecer. E se chegar a esquecer, como faria para viver? – A Procura de María Luisa Bombal

Parte del Simposio:

SP.62: Antropoéticas: As grafias enquanto gesto político, ético e poético.

Ponentes

Mariana Ribeiro de Oliveira

UFRGS

Em março de 2023 me dirijo à capital portenha com o objetivo de iniciar uma possível pesquisa de graduação. A procura de materiais que demonstrassem a presença do meu objeto que viveu e estreou-se como escritora há dez décadas atrás nessa cidade. Encontro seus arredores, as publicações de seus colegas e amigos, os teatros e cafés que frequentava, o túmulo de seu marido e centros culturais nomeados após seus contemporâneos. Mas em Buenos Aires, nessa cidade que se lembra tanto, havia uma presença que parecia só existir para mim, e como se documenta a ausência? Quando a luz encontra a película do filme através do obturador, não há dúvidas da captura, mas só se descobre posteriormente o que foi encontrado. A procura de María Luisa Bombal, é uma tentativa de experimentação através da fotografia, montagem e colagem do primeiro contato com o campo que se tornaria trabalho de conclusão de curso em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A busca pelas palavras dessa escritora surrealista chilena mas que se fez em diversos países, especialmente na Argentina, e compôs uma das grandes cenas literárias da América Latina. Não apenas publicava na revista Sur, como também escreveu obras consideradas, atualmente, vanguardistas do realismo mágico latino americano. Uma figura enevoada de escândalos, contradições e categorias estratégicas para sua definição tanto nas áreas acadêmicas quanto artísticas. Este material acabou se distanciando dos conhecidos estudos de trajetórias com fotografias meramente acompanhantes do processo, ou da conversão da arte em artigo de uso (SONTAG, 2020). Se tornou uma oportunidade de trabalhar com essas imagens pela beleza da faísca do momento obtido (BRETON, 1972), ao seu encontro com as palavras de Bombal, no contexto da cidade de Buenos Aires. Assim como a própria tentativa de um possível resgate, que também havia ficado apenas na pretensão, os filmes revelados elucidam a possibilidade do viver depois de esquecer. Seja pela demora do processo de transformar o negativo em foto, ou por uma artista assombrada pelo constante fantasma desse esquecimento, em suas obras, seus testemunhos e suas biografias desenvolvidas anos após sua morte.

Referências:
BRETON, André; Manifestoes of Surrealism. Ann Arbor: University of Michigan Press. 1972
SONTAG, Susan; Contra a interpretação e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras. 2020.