Ponencia

Mulheres Rurais na Fronteira: Estratégias Agroecológicas e Lutas Interseccionais no Mundo do Trabalho.

Parte del Simposio:

SP.36: Luchas colectivas de las mujeres en América Latina en defensa del territorio y en contra de los extractivismos

Ponentes

Letícia de Faria Ferreira

Universidade Federal do Pampa

Cristiani Gentil Ricordi

A pesquisa busca pelos arranjos elaborados por mulheres rurais para diminuição das assimetrias em seu mundo do trabalho e conhecer as estratégias que lançam mão para se constituírem como trabalhadoras rurais e sustentarem a guinada para uma produção agroecológica. O campo da pesquisa é na região de fronteira, no sul do Brasil, nas cidades de Jaguarão, Rio Grande do Sul e de Rio Branco, Uruguai. A intenção deste artigo é tratar das combinações e diferentes apropriações sobre os recursos naturais e as escolhas das formas da produção agrícola, preferencialmente, situações em que as mulheres são as principais articuladoras e agentes da produção na terra. Trata-se de uma etnografia do contexto da luta feminista pelo direito à terra, contra a LGBTfobia, o antirracismo de forma interseccional e, especialmente, pelo direito de produzir seus alimentos de forma agroecológica. No trabalho rural, a importância da atividade das mulheres, em muitos casos, é invisibilizada ou até mesmo ignorada, questão agravada por situações conflituosas como no direito à herança da terra e ao controle da comercialização dos produtos agrícolas. A desigualdade de gênero não é exclusividade do meio rural e pode ser observada na sociedade de modo geral, podemos atentar para o acesso inferior ao dinheiro e a exclusão feminina dos processos decisórios, também são as mulheres que ocupam espaços de menor poder, com menos visibilidade na atuação pública e política. Nesse sentido, observa-se como muitas camponesas se articulam hoje com movimentos feministas e de luta pela igualdade de direitos, propiciando avanços e novos olhares para os estudos de gênero. Neste artigo pretende-se debater como os estudos rurais retratam o modo como muitas camponesas se articulam hoje, seja nos movimentos feministas e de luta pela igualdade de direitos, cotejando esses estudos com a etnografia com mulheres que estão em processo de transição para a sustentabilidade agroecologia em uma região de fronteira, marcada pela presença do agronegócio, onde suas propriedades em muitos casos estão cercadas por lavouras de soja. O debate – e os embates – sobre a transição da unidade produtiva convencional para uma agricultura agroecológica é atravessado por várias questões simultaneamente, salientamos para os acordos e conflitos familiares, as relações de vizinhança e toda luta de contraposição ao sistema capitalista e patriarcal. A questão acerca do poder e da hierarquia na construção de papéis de gênero no espaço rural não fica de fora e permanece um tema instigante no campo da história e da antropologia.