Nesta pesquisa, partimos da compreensão do futebol enquanto espaço de disputas, negociações e relações de poder, os quais historicamente foram constituidos por representações de masculinidades dentro e fora do campo de jogo. Tais representações, se dão em relação à condição masculina como uma construção cultural produzida e reproduzida socialmente e que não pode ser definida fora das condições históricas, culturais, econômicas e políticas em que esse sujeito constitui sua masculinidade. Neste sentido, são referências não apenas aos envolvidos com as práticas no campo do jogo, mas abrange os que se apropriam das práticas e delas fazem parte enquanto espectadores. Frequentar um estádio, possuir um vínculo com o clube, com a torcida, acompanhar os
jogos, é uma escolha permeada por desafios que vão desde as condições financeiras (valores dos ingressos, viagens), a segurança antes, durante e depois dos jogos, as relações estabelecidas com os demais membros torcedores organizados ou não. O pertencimento clubístico, os gestos, vestimentas, cânticos, expressões, a alegria e o sofrimento compartilhados que implicam na constituição das identidades dos sujeitos e na produção performática do ser torcedor(a), neste sentido ser mulher torcedora. Dentro deste contexto elegemos mulheres torcedoras de futebol enquanto foco de estudo, e nesse sentido abordamos as disputas, identidades e resistências, em relação aos discursos envolvendo gênero, corpos e identidades no meio futebolístico. Nosso objetivo, foi compreender as representações de identidades torcedoras assim como os discursos envolvendo gênero, e corpos dissidentes em relação à diversidade. Para tanto, no campo investigativo analisamos mulheres torcedoras de equipes do Sul do Brasil, a partir de abordagem teórica que privilegiou uma pesrpectiva decolonial dos estudos feministas e de gênero. Como recursos metodológicos utilizamos a observação participante e a realização de entrevistas semi-estruturadas. Concluímos que vivenciar a cultura torcedora está relacionado com as possibilidades de jogos e relações de poder manifestados nos discursos advindos do meio futebolístico, e que atravessam as mulheres torcedoras envolvidas com o mesmo. A articulação destes movimentos em seus discursos e desdobramentos, permite visualizar a construção das suas identidades enquanto torcedoras e que coletivamente organizam estratégias de resistência e permanência nas arquibancadas de futebol.