Inserida no âmbito do Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP), a presente pesquisa se inscreve nas discussões das migrações internacionais contemporâneas, que têm nas trabalhadoras do Sul Global uma centralidade crescente. A herança colonial baliza a construção das nações latino-americanas, deixando suas marcas nas estruturas ― social, racial e ideológica ― dessas sociedades, bem como revelando-se raiz da emigração de suas populações. O Brasil está inserido neste contexto, lançando brasileiras pelo mundo, mas, também, recebendo mulheres latino-americanas ― o que encontra explicação na geopolítica das migrações contemporâneas. Quanto mais os Países do Norte se fecham a migrantes internacionais ― periféricos ―, mais a migração se intensifica entre os Países do Sul e, nesse cenário, o Brasil se destaca entre os que recebem esses migrantes. Assim, a proposta deste estudo é entender ― a partir de uma leitura decolonial, ou de um olhar desde o Sul Global ― as formas de preconceito que mulheres latino-americanas imigrantes no Brasil enfrentam no contexto pós-COVID, bem como suas lutas para fazer frente a essas violências. Dito de outra forma, a pesquisa busca compreender a presença dessas mulheres no País. Pela origem latina, um dos desafios impostos a elas é o xenorracismo e, na luta contra ele, a construção de territorialidades reflete processos de ocupação e identidade em uma sociedade xenorracista. Tomando como norte esta realidade, a presente pesquisa situará os impactos da pandemia de COVID-19 nos processos migratórios de latino-americanas no Brasil e avaliará o contexto de vida dessas mulheres no cenário pós-pandemia, entendendo as formas de preconceito que elas enfrentam no País, bem como suas lutas para fazer frente a essas violências, o que pode se concretizar na produção de territorialidades ― cuja compreensão e apreensão são objetivos deste estudo. Para tanto, recorrer-se-á a entrevistas semiestruturadas aplicadas remotamente com migrantes latino-americanas que vivem no País. Quando são ouvidas, elas se tornam sujeitos da sua história. Ouvir migrantes revela-se, portanto, recurso central desta pesquisa, para que possam ser e pertencer, libertando-se da invisibilidade e denunciando os processos de violências vividos. Grifa-se, finalmente, que esta pesquisa foi aprovada junto ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP (CAAE: 49335121.1.0000.8142).