Este paper visa apresentar alguns resultados de uma ampla investigação sobre a produção fotográfica de caráter etnográfico realizada por mulheres no Brasil na primeira metade do séc. XX. Nosso esforço se dá no sentido de olhar para a história de saberes e práticas fotográficas realizadas no país no período que antecede a criação dos primeiros Núcleos de Antropologia Visual, focando especialmente na atuação de mulheres, cujos trabalhos permanecem por diversos motivos desconhecidos. A partir do levantamento da participação de mulheres em equipes de trabalho de campo etnográfico no país, a pesquisa combinou diversas metodologias – revisões bibliográficas, pesquisas biográficas e históricas, pesquisas em arquivos, análise de imagens e de conteúdos – para imaginar a atuação em campo e na sistematização de dados etnográficos de mulheres que viajaram pelo país entre as décadas de 1930 e 1950. Nesta apresentação, trataremos do trabalho imagético de quatro delas: a alemã naturalizada brasileira Charlotte Rosenbaum (Comissão Rondon e Serviço Etnográfico do Serviço de Proteção aos Índios), a estadunidense Ruth Landes (Columbia University), a francesa Dina Dreyfus (Missão Francesa/Dina e Claude Lévi-Strauss Missão Etnológica) e a romena naturalizada brasileira Berta Gleizer Ribeiro (viagens com Darcy Ribeiro, Museu Nacional e Museu do Índio). Partindo de estudos no campo da Antropologia Visual, dos Estudos de Gênero, da Ciência e Tecnologia e da Antropologia Histórica, buscamos contribuir não apenas com a ampliação do conhecimento e do acesso à produção artística e intelectual dessas mulheres, como com a ampliação dos debates acerca dos trabalhos coletivos na área da Antropologia e da fotografia etnográfica no Brasil. Reflexões críticas sobre os processos de invisibilização de suas atuações, assim como sobre a pesquisa em arquivos públicos e privados, nacionais e internacionais, também serão apresentadas, assim como algumas análises das imagens. Ao olhar para o passado e os processos de manutenção da história e dos cânones da nossa disciplina, também buscamos compreender que mecanismos permanecem dificultando o reconhecimento da atuação e autoria de pesquisadores na Antropologia.