Este texto tem como tema as mulheres campeiras do litoral no extremo sul do Rio Grande do Sul, enquanto sujeitos campeiros nesse meio rural pampeano, sendo a finalidade primordial desta pesquisa apreender de que forma essas mulheres em comunidades rurais se educam e se constituem enquanto sujeitos campeiros, com seus saberes, suas práticas cotidianas, sociais e culturais, e suas histórias, nesse ambiente em constante transformação e no qual têm seus conhecimentos constantemente invisibilizados. Busca-se, assim, compreender, especialmente pensando a educação da atenção proposta por Ingold (2020), como acontece essa educação da mulher campeira em uma concepção que considera os diversos elementos que estão postos nas relações de educação cotidiana nesse meio. Para tanto, procura-se tratar de meio ambiente entendido nas relações entre diferentes seres, elementos e coisas. A investigação, na busca por trazer a compreensão de uma dimensão interrelacional entre áreas no processo educacional das mulheres campeiras, parte das epistemologias ecológicas e de teorias feministas decoloniais e interseccionais, entendendo que fazer ciência é pensar criticamente, é conceber que, ao produzirmos conhecimento, assumimos a responsabilidade de uma construção por meio de escolhas que não são despretensiosas nem livres de intenção (SILVA, 2022). Assim, assume-se interesse em uma educação/antropologia ocupada nos aprendizados através das vivências práticas cotidianas e, especialmente, na educação situada nos saberes das mulheres campeiras desse lugar, refletindo sobre seus engajamentos, suas habilidades, seus conhecimentos, suas formas de habitar e de estar no mundo com seus corpos femininos. Para pensar a educação e constituição das mulheres campeiras partir do todo e centrando no processo – que é a educação – e não do resultado, como indica Ingold (2020), entendemos que as epistemologias ecológicas, uma perspectiva que parte da reflexão de autores e autoras preocupados/as em romper com as divisões impostas pelo pensamento moderno, podem ser adequadas, já que compreendem o conhecimento, os saberes e os significados como constituintes do mesmo mundo da matéria e das coisas (STEIL; CARVALHO, 2014). Assim, temos que há a possibilidade da ampliação nas discussões sobre opressões de mulheres, sobre trabalho e modos de vida no campo e sobre relações entre humanos e mais que humanos, pelo viés antropologia e/como educação (INGOLD, 2020).