Os modos de fazer cidade encontram complexificação com a emergência do digital no cotidiano dos citadinos, contribuindo para a produção de formas de sociabilidades, estilos de vida e para a construção de espaços urbanos para diversas práticas, usos e sentidos. Como pensar, então, o processo de construção e as representações de um espaço ermo transformado em lugar de moradia e pertencimento, resultado do ajustamento de códigos morais-emotivos e de projetos individuais e coletivos agenciados através de disputas e alianças para sua funcionalidade, apoiando-se no entrecruzamento do digital e do presencial? Busca-se analisar um espaço urbano e sua fabricação enquanto lugar, fruto de uma produção simbólica, apoiando-se nas interações presenciais e virtuais na configuração em torno do imaginário social sobre a Comunidade do Timbó, situada na cidade de João Pessoa-PB-BR.
A investigação parte de incursões na rede social Instagram, mapeando e acompanhando contas vinculadas ao Timbó, administradas por moradores ou frequentadores – agentes que desenvolvem ações no local. Além dos sites de jornais e da prefeitura, levantando matérias que se debruçam sobre a comunidade. Cada plataforma tem uma dinâmica, tipo de conteúdo e interações que as caracterizam e configuram modos de produção do material, que é sistematizado e analisado com o auxílio do software Atlas.ti, aprofundado com o trabalho de campo na comunidade, no primeiro semestre de 2023, com técnicas de observação participante, conversas informais e entrevistas, além do cruzamento com a experiência de campo presencial em 2018-2019.
O agenciamento na construção do Timbó é um processo contínuo, os moradores, os frequentadores, a mídia e a prefeitura integram esse jogo, configurado por códigos morais e emotivos. As elaborações da mídia são articuladas no jornal impresso, televisão e plataformas digitais, é uma instância hegemônica na constituição de um imaginário sobre a comunidade. A prefeitura sistematiza produções no site oficial e em matérias na mídia, veiculando intervenções da administração pública no Timbó. São produtos de fora, daqueles que não estão inseridos e não compartilham do cotidiano local. Os moradores e os frequentadores integram o processo, elaborando produções de dentro, daqueles que participam do cotidiano e possuem um vínculo com o local. São construções próprias que colocam representações em tensão, contrastando um imaginário comumente negativo, estigmatizado, de precariedade, vulnerabilidade, violência, criminalidade e pobreza, com os códigos morais de solidariedade, pertença, trabalho, arte e religiosidade.
A proposta, portanto, visa pensar uma comunidade urbana em relação com a cidade que integra, compreendendo modos de ser e estar, de transformar espaços em lugares de pertença e de disputas. A ênfase se apoia na continuidade entre o digital e o presencial enquanto instâncias que constituem a vida cotidiana, sendo possível uma construção analítica com maior complexidade ao apreender os agenciamentos dos grupos trabalhados nas duas instâncias para a fabricação de um Timbó comunitário, um lugar de expressões de maneiras de viver e sentir na cidade de João Pessoa. reflete sobre formas de fazer cidade com ênfase para uma comunidade construída como periférica e atualmente situada em uma área de valorização imobiliária, com um jogo de representações sobre o lugar