Ponencia

Modos de dançar e existir: como as práticas artísticas do projeto Mulheres ao Vento contribuem para a subversão de lógicas de opressão na vida de mulheres moradoras do Complexo da Maré

Parte del Simposio:

SP.68: Raza, cuerpos y micro/cosmopolíticas en performances situadas

Ponentes

Simonne Silva Alves

Museu Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Complexo da Maré, cidade do Rio de Janeiro, Brasil, bairro composto por 16 favelas marcadas tanto pelas narrativas de violência urbana veiculadas pelas grandes mídias do país, quanto pelas suas produções artísticas e culturais. Entre essas produções está a performance “Lugar de Mulher”, que ocorreu na Nova Holanda, umas das favelas que compõem esse território. Eram 30 mulheres, em sua maioria negras, migrantes da região nordeste do país, com idade entre 35 e 79 anos, que estavam no palco e formavam um semicírculo diante da plateia. Cada uma em sua vez, ia em direção ao centro daquela disposição, reivindicando um lugar na sociedade onde elas não vêem mulheres ocupando posições de poder/destaque. A dinâmica ocorreu da seguinte forma: cada vez que uma das mulheres entrava no centro, ela iniciava sua fala com “lugar de mulher é” seguido por “na presidência”, ou “na engenharia”, “no futebol”, “na banda”, etc. Na medida em que elas vão reivindicando esses lugares e retornando ao semicírculo, todas as outras comemoram, emitindo palavras de incentivo, ao mesmo tempo que se apoderam daquelas reivindicações. Depois de algum tempo, uma das mulheres negras, de cabelos curtos e grisalhos, cruza o palco e se dirige à plateia dizendo pausadamente: “Sabe onde é lugar de mulher?” seguido de “É onde ela quiser!” e na medida que ela afirma e repete em alto e bom som, as outras mulheres ecoam suas palavras, reafirmando em exclamação. Essa performance vem sendo apresentada em diversos lugares, e faz parte de um espetáculo produzido pelo projeto de dança Mulheres Ao Vento (MAV), fundado em 2016 e caracterizado pela sua articulação entre as danças populares afro-brasileiras e o cotidiano de suas participantes. Esse é o campo onde estou inserida, desde o início da fundação do MAV, desenvolvendo minha etnografia e acompanhando a trajetória de vida dessas mulheres que por caminhos diversos se encontram no Centro de Artes da Maré, na nova Holanda, para dançar. Tenho acompanhado essas reivindicações extrapolarem os espaços de palco e ocuparem a vida e os sonhos dessas mulheres, que na medida que vão se inserindo nos debates propostos no projeto, sobre raça, gênero, classe e território, vão reformulando suas subjetividades tendo o contexto como agente que participa dessas formulações (D’ANDREA, 2013). Assim, em coletivo, as mulheres compartilham suas narrativas acerca de problemáticas cotidianas, experimentam a resolução dessas problemáticas em cena, atuando, cantando ou dançando e aproximam essas experimentações da vida cotidiana, a fim de que haja algum tipo de subversão da lógica que as oprime. Diante do emaranhado conceitual que se apresenta opto por alguns caminhos metodológicos para que seja possível realizar essa pesquisa, um deles é pensar a dança, a subjetividade, gênero e território a partir de autores como Katherine Dunham, Maria Acselrad, Theresa Buckland, Leda Martins, Veena Das, Adriana Facina, Tiaraju D`Andrea e por um segundo viés um debate a partir das contribuições de Foucault, para pensar heterotopia e os corpos dóceis, Marcel Mauss, com as técnicas do corpo, considerando também as contribuições de Judith Butler para pensar sujeição.