Sobre os tempos ditatoriais no Brasil (1964-1985), tanto quanto em outros países latino-americanos e caribenhos paira um pesado silêncio que encobre os crimes dos diversos períodos ditatoriais. As memórias, tomadas como impertinentes, trazem a lume os porões das ditaduras. No caso estudado, o Relatório Figueiredo – documento de Estado – expõe as arbitrariedades cometidas contra povos indígenas. Das folhas amareladas e sujas de sangue retiramos uma cena de tortura para analisar e demonstrar como o tacão dos agentes de Estado afetaram os povos indígenas. A narrativa do Relatório Figueiredo informa uma sequência de eventos entre os “… índios Tapaiunas, também conhecidos como Beiços-de- pau “… foram envenenados com ARCÊNICO adicionado ao açúcar que receberam de presentes; que recorda ainda as atrocidades e os requintes de perversidade cometidos por uma Expedição organizada pelo Senhor JUNQUEIRA, de Cuiabá; que a expedição exterminou uma taba indígena, isto é um acampamento de caça indígena mediante o uso de bombas e dinamite atiradas de avião sôbre os selg digo selvagens; que os mateiros da mesmo expedição exterminaram os remanescentes sendo que estouraram a cabeça de uma criancinha a bala e pendurarão a mãe do indiozinho assassinado pelas pernas e partiram-na a facão da verilha para a cabeça; que o executor dessa monstruosidade, o indivíduo CHICO LUIZ confessou o crime …” (RF, Vol. XVI: fls. 3785, sic) Os desdobramentos do caso são muitos e oferecem boas formas de pensar as ações do Estado e as formas de quebrar o silêncio.