Esta proposta de paper faz parte de uma pesquisa de doutorado em curso no departamento de sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP – Brasil). A pesquisa enfoca a reprodução social da instituição prisional e dos encarcerados no estado de São Paulo durante o período compreendido como da formação do encarceramento em massa, isto é, a partir da década de 1990 e mais especificamente após o Massacre do Carandiru em 1992. Tendo como marco a Teoria da Reprodução Social, a pesquisa é realizada por meio de uma etnografia com familiares de presos, além de pesquisa em arquivo e análise de documentos.
Neste paper, propomos destacar as trajetórias de mães que se tornam responsáveis pelo trabalho reprodutivo com seu filho adulto a partir do momento da prisão desse segundo. São muitas as transformações nas vidas dessas mulheres causadas pela precariedade decorrente da privação da liberdade. Alterações na vida afetiva, no trabalho, nos deslocamentos pela cidade, nas relações com dinheiro e com dívidas, além de novas relações com atores que por vezes atuam como ajuda na realização do cuidado, que podem ser desde outros familiares, ao Primeiro Comando da Capital, a igrejas e movimentos sociais. Além disso, traçamos reflexões que buscam evidenciar que o trabalho reprodutivo para a sobrevivência dos presos não é realizado de forma inteiramente livre pelas mães. O Estado (através da Secretaria de Administração prisional, da direção de cada presídio, do judiciário, etc.) realiza uma série de imposições e ingerências sobre como e quando o cuidado pode ser provido.
Desse modo, importa destacar de que modos a experiência prisional modula as experiências de reprodução social das famílias cujas vidas são traçadas entre periferias urbanas e o cárcere em São Paulo. O estudo pretende contribuir para os debates que enfocam o deslocamento e a relevância do trabalho de cuidado realizado fora dos limites do ambiente doméstico. Por fim, desejamos demonstrar os diferentes circuitos de trabalho reprodutivo realizado pelas mães como ilustração de diferentes formas pelas quais a prisão afeta a vida urbana, em especial nas dimensões econômicas, afetivas e políticas entre mães e filhos das periferias e prisões paulistas.