Ponencia

Maracá na mão, Cerrado de Pé: cantoria, aprendizagem e resistência no território Mehῖ(Krahô)

Parte del Simposio:

SP.59: Transformaciones estructurales e institucionales para generar espacios interculturales en Latinoamérica. Nuevas bases epistémicas y propuestas de acción

Ponentes

Veronica

UFG

Veronica

UFG

Creuza Prumkwyj Krahô

Gregório Huhte Krahô

O povo Krahô vem de uma ancestralidade que desenvolve há milhares de anos – por princípios cosmológicos e teóricos – a arte de ouvir e se comunicar cantando em sintonia com toda a teia da vida presente no ambiente; a vibração cosmo-acústica formada por inúmeras vozes é fortalecida pelos cantos que os Mehῖ mantém em circulação até hoje; é o Maracá na mão, no ritmo e na respiração da Terra que mantém o Cerrado de pé para que o céu não desabe. Desde a década de 1990 professores Krahô (Mehῖ) vêm atuando fortemente pela garantia de seus direitos no campo da educação, lutando por uma escola indígena diferenciada, e nesse sentido vem ficando cada vez mais explícita a importância dos cantos, ou me increr, como uma de suas principais matrizes epistêmicas, onde estão assentadas filosofias, teorias e conhecimentos ancestrais que orientam e sustentam o modo de vida Mehῖ. (PIMENTEL, 2016; HERBETTA, 2016; BARRETO, 2021). A presença e valorização dos especialistas dos cantos, me increr, nas dinâmicas culturais dos vários espaços de aprendizagem, inclusive na escola, ajudam a manter o território e o modo de ser Mehῖ, vivos e seguros. As músicas não foram criadas por algum ancestral Mehῖ, mas ensinadas pelo próprio Cosmo que é, todo ele, sonoro e vibrante; os Mestres que ensinaram as cantigas para os Mehῖ são outros: mestres pássaros, mestras árvores, mestre rio, mestre sol, mestre céu, todos expressam musicalmente seus conhecimentos e sabedorias, tecendo redes e trançados que conectam a gigantesca rede biodiversa que habita o Cerrado. Na cosmologia Mehῖ, tudo que existe no mundo e que possui nome, tem seu próprio canto, ou como dizem, “todos os seres cantam sobre si mesmo”, sobre seus hábitos, gostos e perspectivas.
Os trabalhos dos professores Krahô somados aos depoimentos de anciãos e especialistas, e ainda, às traduções que temos realizado em conjunto há mais de uma década de pesquisas interculturais-colaborativas, nos colocam em contato direto com concepções e teorias ancestrais transportadas de maneira formidável pelo veículo da oralidade há milênios; o percurso compartilhado até aqui tem nos permitido traduzir e compreender um pouco das origens, estruturas, e funcionamento desses enormes corpus-míticos musicais que circulam povoando o território Mehῖ.