Ponencia

Mana, você não está só! etnografar sociabilidades no espaço virtual

Parte del Simposio:

SP.14: Etnografiar la transformación: géneros, patrimonios y rituales en Latinoamérica

Ponentes

Louise Tavares

Universidade Federal da Bahia

A frase que intitula esse resumo foi uma das muitas ouvidas durante as interações no grupo online Igreja Vale das Bênçãos na plataforma WhatsApp. O grupo que surgiu durante o período pandêmico tem por intuito ser um espaço de acolhimento para mulheres lésbicas e bissexuais que professam a fé cristã. Assim, as saficrentes da IVB buscam interagir e trocar informações no espaço virtual. Suas defesas e discursos estão no campo de tensão entre religião e dissidências sexuais. O que se busca entre elas é a expressão de uma religião afirmativa das diferenças. Ou seja, produzir um campo de acomodação para os dissidentes no meio religioso. Por isso, visualizei nessas experiências a possibilidade de etnografar o grupo. Isso porque este se situa entre dois campos importantes no que tange circulações generificadas e no uso religioso da internet. Jungblunt (2010) aponta como a existência de grupos religiosos na internet pode se configurar como um espaço de validação e de produção de sociabilidades. Portanto, é interessante para esta pesquisa notar como o meio virtual se constitui como um campo de construção de relações e sentidos. Sendo a etnografia virtual no sentido definido por Polianov (2014) uma seara possível para reflexões antropológicas. Mochel (2023) em uma pesquisa sobre evangélicas em grupos de WhatsApp expressa como a circulação e trocas mediadas pelo sentido religioso na internet são materialidades necessárias de serem observadas e descritas. Assim, este trabalho busca uma reflexão sobre as possibilidades metodológicas de pesquisas feitas em meio virtual. Um campo que conta com possibilidades dinâmicas e com uma temporalidade específica. A participação nos cultos, as trocas e conversas com tom de acolhimento podem ser classificadas como movimentações digitais de cuidado para mulheres (Mochel, 2023). Nesse sentido, reflito para como esse fato se constitui como uma inovação metodológica desde do modo como acesso ao grupo, sendo membro do grupo, ou na dinâmica dessas virtualidades. É possível notar nas interações troca de memes, posicionamentos políticos, desabafos, conselhos amorosos e informações. Mas há também as inflexões e desafios do trabalho etnográfico ao acompanhar o fluxo frenético das interações. Logo, é interessante a este trabalho uma reflexão sobre a comunicação e formação de relações em ambiente virtual em que marcadores sociais da diferença como gênero, sexualidade, e porque não religião, formam redes significação e pertencimento.