O objetivo da presente comunicação é abordar experiências de construção de laboratórios de pesquisa em colégios estaduais do Rio de Janeiro, partindo de nossas experiências enquanto docentes e orientadores de iniciação científica para estudantes do Ensino Médio. Estes núcleos foram formados a partir dos projetos desenvolvidos para a I e II Feira de Ciências “Conflitos e Diálogos na Escola” (realizadas, respectivamente, em 2020 e 2022), idealizada por pesquisadores do INCT-InEAC/UFF (Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos) que lecionam em escolas públicas e/ou desenvolvem pesquisas sobre administração de conflitos no espaço escolar. Nestas ocasiões, estudantes organizaram-se em equipes sob a orientação de um docente e produziram pesquisas de sua própria escolha, cujos temas tinham como problemática conflitos envolvendo o ambiente escolar. As equipes foram orientadas a confeccionar podcasts como produtos finais do trabalho de pesquisa, sendo avaliados por uma banca externa à UFF. A forma orgânica da organização e realização desses eventos foi importante para a aproximação entre professores e estudantes de diversas cidades do estado do Rio de Janeiro servindo, inclusive, para a aproximação dos autores deste trabalho. A partir desse diálogo, apresentaremos reflexões oriundas de nossas experiências enquanto coordenadores desses laboratórios de pesquisa nas escolas, onde estudantes bolsistas de iniciação científica produzem reflexões sobre os conflitos ocorridos no ambiente escolar e como estes são administrados, com base em suas vivências e experiências. As estratégias pedagógicas adotadas na construção desses núcleos se tornaram uma alternativa para lidar com os conflitos que aparecem nesses espaços escolares, à medida que buscam evidenciar, através do exame etnográfico, a construção de relações, práticas e imaginários muitas vezes permeados por estereótipos de raça, gênero e classe. Os estudantes envolvidos no projeto são continuamente estimulados a participar de eventos acadêmicos, a fim de que possam comunicar os resultados de suas investigações e debatê-los com colegas de outras unidades escolares, docentes e pesquisadores de variados níveis de formação.
De acordo com Kant de Lima (2019), os sentidos de justiça que são formados pelas instituições brasileiras, inclusive escolares, são marcados pela falta de legitimidade na obediência às regras, o que produz obstáculos para construir relações de previsibilidade vinculadas ao emprego de normativas claras. Como é comum de acontecer, os professores e gestores procuram esconder ou suprimir os conflitos, punindo os estudantes que possuem um comportamento infracional. Nesse sentido, as práticas pedagógicas adotadas a partir dos laboratórios de pesquisas nas escolas seguem o movimento de transformar estes conflitos em objeto de análise, envolvendo alunos e docentes dessas unidades educacionais na reflexão acerca das regras aplicadas e do conteúdo estudado.