Com o objetivo de somar e contribuir com o debate apresentado para esse simpósio, trazemos experiências cotidianas desenvolvidas a partir de etnografia em escola de nível médio no Recôncavo Baiano com jovens negros com idades entre 14 a 20 anos. Como sabemos, apesar do avanço dos sistemas educacionais, desigualdades de gênero e raça, por exemplo, permanecem como obstáculo para uma epistemologia crítica ou emancipatória. Nesse sentido, acreditamos que é de uma perspectiva particular que se pode produzir uma visão antropológica interpretativa que faça sentido, que enfrente a totalização e promova uma discussão que visibilize as causas do não diálogo e a própria negação do “Outro” negro – a própria impossibilidade de emergir do sujeito negro. O referido trabalho de campo, que resultou em tese de doutorado, tratou do abandono dos o abandono dos jovens homens negros do Ensino Médio em São Félix/BA. Através do olhar antropológico crítico-interpretativo, buscamos entender os processos cotidianos que levam os rapazes negros a deixarem a escola, e as formas como esses interpretam/negociam a posição de sujeito frente ao desafio escolar. A tese, construída a partir de diálogos possíveis com sujeitos da interação, em interlocução intersubjetiva no sentido social/político da antropologia feita com os que estudamos, reúne diálogos/práticas cotidianas em campo que versaram sobre quem são nossos sujeitos, o que dizem sobre suas trajetórias, projetos de vida, seus medos e interesses, e de que maneira constroem suas masculinidades na escola e fora. Essa comunicação trará um recorte desse trabalho que enfatiza como a construção das masculinidades pode condicionar o percurso escolar dos agentes, mirando os processos de subjetivação e o reconhecimento do padrão dominante de masculinidade que a própria escola constrói. Em uma sociedade como a brasileira, cujas classes sociais têm cores de pele, perguntamos: que relação os estudantes veem entre o trabalho que fazem na escola e as vidas que levam? Qual a relação deles com a escola? A escola possui uma relevância na forma como instiga a construção específica de masculinidade/feminilidade, na regulação do corpo e na promoção de comportamentos considerados adequados. Entender como os jovens negros, do Ensino Médio público na Bahia, significam as relações de gênero e atribuem sentidos às masculinidades/feminilidades pode ser um exercício relacional revelador das des/continuidades nos significados socialmente manipulados/construídos pela juventude que marcam suas experiências. Além do compromisso com o ponto de vista do ‘nativo’, e com a análise do que dizem os interlocutores por meio de atividades já clássicas da etnografia, incluímos práticas emancipatórias de pesquisa – dialógicas, horizontais e críticas, usadas na intenção de constituir um diálogo com nossos interlocutores para construirmos espaços para o revigoramento da capacidade crítica dos agentes por meios reflexivos, a partir dos seus saberes. Sem dúvida uma nova abordagem, haja vista o reduzido número de pesquisas acadêmicas centradas na compreensão dos repertórios, significados em circulação no imaginário de rapazes sobre masculinidade.