Ponencia

Indígenas, colonos e missionários nas canções de Pedro Casaldáliga sobre a Amazônia Brasileira

Parte del Simposio:

SP.9: Antropología de la música en América Latina y el Caribe

Ponentes

Edimilson Rodrigues de Souza

Faculdade Estadual de Música do Espírito Santo (FAMES)

A proposta desta comunicação é analisar, desde a perspectiva antropológica, algumas das canções compostas por Pedro Casaldáliga, religioso espanhol, erradicado no Alto Xingu, Brasil, e um dos idealizadores da Teologia da Libertação, no contexto brasileiro. Casaldáliga foi um dos muitos religiosos estrangeiros, que migrou para o Brasil para atuar em áreas de conflitos fundiário na Amazônia junto a populações camponesas e indígenas, que sofriam naquele momento situações de extrema violência e vulnerabilidade. A pesquisa etnográfica e documental revelou que estes religiosos católicos vieram para o Brasil entre as décadas de 1960 e 1980 motivados pela possibilidade de mudanças na atuação da Igreja Católica Romana na América Latina pós-Concílio Vaticano II (1962-1965), que propunha uma reforma na Igreja Católica Romana como tentativa de atualizar as práticas eclesiais e provocar aproximações entre os ritos: liturgia, interpretação dos textos bíblicos e inserção de canções, com temas e arranjos inspirados em cantos e performances de instrumentos rituais indígenas, nas celebrações católicas e reuniões políticas.
Na esteira das motivações que provocaram a vinda destes religiosos ao Brasil estava a possibilidade de trabalhar com populações rurais e indígenas em movimentos de educação popular e formação política, através de atividades de formação de lideranças, sindicatos, cooperativas e associações. Por isso, a pesquisa realizada nessas áreas da Amazônia brasileira buscou analisar o conteúdo sociopolítico de algumas das canções compostas por Pedro Casaldáliga, com ênfase na experimentação de novas linguagens musicais e estéticas, que denunciavam em suas letras algumas das situações de conflitos e violação de direitos humanos na Amazônia, mas também para comunicar os contextos socioculturais e políticos amazônicos, como tentativa de aproximação do ritual católico romano às dinâmicas e experiências vividas por camponeses (posseiros) e indígenas naquela região.
Dessa perspectiva, os textos-narrativos e poemas musicados podem oferecer outras possibilidades de análise dos contextos históricos e culturais da Amazônia, da relação entre indígenas e camponeses com a fauna e a flora da região, além de suas narrativas mitológicas que compõem, com seres encantados e espíritos, outras possibilidades de conhecimentos a partir das experiências vividas por esses povos. Uma vez narradas aos missionários católicos, tais experiências se consubstanciam em registros escritos e iconográficos, formando parte da documentação com a qual venho trabalhando, para entender como os temas centrais dessas canções circulam através dos rituais católicos e produzem imaginários sobre a Amazônia brasileira e seu mosaico de povos, bichos e seres intangíveis que habitam os fundos das matas e dos rios, que inspiram essas canções e comunicam cosmologias, mitos de origem e situações de conflito.