Ponencia

Ima[r]gens modernistas: zoológicos humanos, arte, religião e cultura popular em Barcelona.

Parte del Simposio:

SP.62: Antropoéticas: As grafias enquanto gesto político, ético e poético.

Ponentes

Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

No fim do século XIX até o começo da Segunda Guerra Mundial, a Europa viveu o auge do colonialismo. Esse foi o momento mais importante de uma certa familiarização de sua população com as culturas não ocidentais. Neste contexto, a produção modernista nas artes, ciências e cultura popular promovia um encontro intercultural ambíguo e cheio de dilemas. No inventário modernista determinados elementos foram apagados ao longo do tempo, um deles são os zoológicos humanos. Pensar os zoológicos humanos como arena de formação de modalidades coloniais de construção da alteridade abre esse inventario modernista como arquivo anarquívico, desestabilizador (Derrida, 2001).
Deste modo, ao fazer um inventário dos zoológicos humanos realizados em Barcelona, pretendo movimentar suas margens e ouvir as suas imagens. No cruzamento entre arte e antropologia, realizo ima[r]gens onde procuro forçar esse inventario a falar, narrar sua origem e fronteiras. Inspirado em Aby Warburg e seu Atlas Mnemosyne, penso essas ima[r]gens como um espaço para o pensamento, uma forma visual de conhecimento que cruza as fronteiras entre o saber acadêmico, o documento e a obra de arte. Sugiro nesta apresentação um ensaio visual do modernismo catalão mostrando conexões imagéticas entre arte, religião, ciência e cultura popular em uma rede complexa de associações e influências. Minha intenção é tecer essa rede para revelar as interconexões entre as imagens e os conceitos que moldaram a construção do modernismo em Barcelona.
Semelhante ao que Didi-Huberman (2015) identifica no trabalho de Bataille na revista Documents, movimento ima[r]gens “anarquivicamente” mostrando relações insuspeitas entre política, arte, ciência, religião, cultura popular e entretenimento. Assim, a partir de incursões pontuais, movimento esse inventário dos zoológicos humanos ocorridos em Barcelona em suas conexões impensáveis. Com essas ima[r]gens procuro demonstrar seus elementos racistas e seus vínculos coloniais e culturais inesperados.
Penso esse trabalho como método de criação e produção de conhecimento por montagem. Sugiro pensar a decomposição do antropomorfismo como um dispositivo comum, como um traço distintivo, tanto da cultura erudita modernista quanto da cultura popular da Catalunha. Modalidade modernista por excelência, a decomposição do antropomorfismo é um dispositivo que se ativa na intercessão entre arte, politica e antropologia, cujo centro foram precisamente os zoológicos humanos, arenas nas quais foram forjadas parte importante das categorias coloniais (racismo, tutela, exotismo e outras) e, por contraste, do próprio modernismo e identidade catalã.