Ponencia

Honra, violências e judicialização: Instrumentos de imobilização da força de trabalho e resistências nos piaçabais em Barcelos-AM

Parte del Simposio:

SP.38: Antropologías Latinoamericanas del trabajo: pendientes, agenda de trabajo y desafíos

Ponentes

Elieyd Sousa de Menezes

UEMA

Este artigo objetiva refletir sobre o uso de princípios morais como reforço da imobilização da força de trabalho nos piaçabais em Barcelos, estado do Amazonas, Brasil. O trabalho da extração das fibras de piaçaba, utilizadas na confecção de vassouras e artesanatos, é realizado pelos piaçabeiros no âmbito de uma relação social assimétrica com comerciantes locais da qual a manutenção dessa relação se dá pela dívida, conhecido na região por sistema de aviamento. Há piaçabeiros que se autodefinem indígenas baré, tukano, baniwa, tuyuca e existem situações em que o trabalhador extrai a fibra por meses e no final continua devendo ao comerciante, pois são descontados os insumos utilizados no trabalho ou empréstimos tomados anteriormente. Registros historiográficos dos séculos XIX e XX apontavam que tal assimetria era marcada por violências físicas e econômicas. A partir de trabalho de campo e levantamento bibliográfico, documental e arquivístico constatou-se que as desigualdades entre esses agentes ainda persistem no século XXI, porém, abrangendo também a esfera do simbólico, como a honra e a moral para viabilizar a continuidade da servidão pela dívida. Em 2013, o Ministério Público Federal (MPF) investigou denúncias juntamente com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e reconheceram que essa relação se tratava de trabalho análogo à escravidão. Apesar das resistências acionadas pelos piaçabeiros, como a judicialização a partir de denúncias, este sistema persiste, se reproduz e se atualiza através de elementos como a honra, moral e culpa atribuída socialmente aos trabalhadores em relação à sua condição de subordinados.