Esta comunicação tem como proposta pensar a ressignificação da moradia em ambientes marcados por estigmas, como as favelas e refletir sobre os novos olhares que tem sido construídos sobre elas a partir de seus próprios moradores, seja devido a implementação de políticas públicas locais, devido a presenças de ONGS, de movimentos sociais ou ainda devido a movimentos que visam a revalorização da identidade e da cultura local.
Escolher o local de moradia sempre foi um desafio para os mais pobres. Ainda no início do século XX, o elevado custo dos imóveis findou por criar bolsões de pobreza nas periferias e nos morros das zonas centrais das grandes cidades, como no Rio de Janeiro e essa concentração de famílias e indivíduos mais pobres, foi em pouco tempo criando uma identidade estigmatizada, associada a violência, uso de drogas e demais posturas moralmente reprováveis. No entanto, apesar dos limites geográficos e administrativos ainda permanecerem bem definidos, há um movimento, sobretudo em favelas localizadas próximas a área litorânea, que tem fortalecido novos referenciais de orgulho e pertencimento.
O ponto de partida para essa análise é o trabalho de cunho etnográfico desenvolvido com moradores do PAC Morro do Preventório. Procura-se enfatizar as especificidades simbólicas e dramáticas que marcaram a ruptura de um modo de vida em detrimento de outro, a saber, a saída da favela para apartamentos, e, refletir como se deu a objetivação da mudança através do consumo material de bens e de serviços. A ênfase que será dada, recairá sobre os aspectos simbólicos, éticos e estéticos que o consumo material possuiu na reordenação de um novo padrão de moradia. Apoiando-se nas perspectivas nativas, que associavam a ida para os apartamentos com a ideia de “mudança de vida” – termo recorrentemente utilizado pelos interlocutores -, analisa-se o processo de internalização desta mudança, a partir de diferentes histórias de vida, norteadas por dificuldades e desafios em romper com os paradigmas anteriores. .