Ponencia

Formação de corpos e a noção de corporalidade desde a perspectiva kanhgág

Parte del Simposio:

SP.65: Corporalidades, ontologías relacionales y metodologías colaborativas

Ponentes

Laísa Castro

Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS

Sergio Baptista da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Este trabalho tem como principal objetivo abordar a formação de corpos e a noção de corporalidade desde a perspectiva kanhgág. A experiência de corporalidade deste povo está embasada nas relações multiespécies em contexto de ontologia relacional. Para esta análise, será considerado que ambas estão alicerçadas em três pontos principais: o sistema de metades, enquanto o conjunto de relações Kamé e Kanhru; os conhecimentos ancestrais aprendidos ao longo da vida; e, especialmente, a exposição com as materialidades do mundo e os seres da série extra-humana.. Na vida kanhgág teoria e prática, razão e emoção, não se separam e configuram as bases da ontologia relacional abarcando uma vasta diversidade de seres e espécies. Este sistema é complementar e relacional e encontra-se em uma dinâmica que busca, a cura, dado a condição de instabilidade dos corpos. O processo de investigação da pesquisa conta com a voz e a presença da kujà, xamã, do povo Kanhgág, Gah Té – Iracema. A partir dos pressupostos da metodologia colaborativa, ela não só realiza ativamente a “interlocução oral” apontando os caminhos a seguir, mas sobretudo ela expressa e é, a partir de seu próprio corpo, a fusão de saberes que são compartilhados entre mundos diferentes Neste sentido, há o constante diálogo com Gãh Té e suas corporalidades que estão sempre em correspondência com todos os seres do cosmos. Conforme relatos etnográficos, serão retomados o modo de conhecer e se relacionar de acordo com horizontes kannhgág, considerando as agências e as propriedades dos seres vivos que são dotados dos espíritos que curam, como por exemplo: a terra, a água, os peixes, o milho, o mel e as ervas. Estes são alguns dos importantes seres e elementos que constituem e atuam na formação dos corpos kanhgág. É buscando na mitologia e no xamanismo kanhgág que acontece a aprendizagem cotidiana, nas atitudes e na contação da história oral por Gãh Té que se percebe a co-abitação destes seres vivos que agenciam a dinâmica e a vida em território, pois eles compõem, comunicam e proporcionam um ritmo de vida outro a este povo. Perspectivas como estas, cuidam, invocam e escutam, sobretudo, a sabedoria de animais que são os guardadores da floresta, principalmente aqueles animais que exercem o papel de auxiliar os kujà. Gãh Té, a partir da luta e defesa pela manutenção deste mundo outro e cuja centralidade envolve a mãe terra, testemunha, movimenta e traduz noções de respeito e reciprocidade com estes seres, já que a partir da colonização européia, decorre a dificuldade e a ausência destes elementos e da diversidade dos seres que justamente trazem o equilíbrio e possibilitam o enfrentamento das doenças. Os Kanhgág não consideram somente os alimentos como os formadores e transformadores do corpo, como no ocidente eurocentrado. Assim como seus elementos, o corpo também está em constante transformação. Aí resulta a importância de compreendermos que não somente a terra, mas a noção de territorialidade kanhgág (que institui a movimentação, busca e relação com outros seres do território) é que consiste em uma potente ferramenta cosmopolítica.