Neste artigo procuraremos ressaltar como as nossas percepções sensoriais possuem a faculdade de construir camadas e vestígios de significados e de referências que são vivenciados por nós, gerando emoções e conduzindo-nos frente ao mundo da vida. Essas percepções sensoriais corroboram por conformar uma escritura que delineia nossas formas de estar junto, uma forma social evidenciada através das sensações, percepções e emoções que nos inserem no munda da vida. Essa inserção no mundo da vida, constitutivas das práticas sociais presentes em nossas vivências e experiências conformam diversas formas sociais simmelianas (2001). Partiremos de uma etnografia sensorial reflexiva de Pink (2012) – A ideia de uma etnografia sensorial surge no contexto do debate sobre reflexividade no campo de pesquisa, especificamente sobre a natureza reflexiva da etnografia – e da antropologia modal, proposta por Laplantine (2017) com o objetivo de compreendermos essas camadas de sentidos que reverberam-se em emoções e prática quotidianas. Para tanto, importante colocar que fazemo-nos acompanhar das reflexões de Favre-Saade (2012) sobre a não-neutralidade da antropologia nos seus processos de compreensão-interpretação e do ser afetado pelo campo e pelo fenômeno observado e pesquisado; consideramos ainda, as suas reflexões de Csordas (2012) sobre os temas da empatia e da intuição, bem como sobre a “transmutação das sensibilidades”, seja na construção, na observação e/ou na compreensão do fenômeno pesquisado. Essas reflexões têm por pano de fundo, ou fundamento, a fenomenologia de Merleau-Ponty, o que nos leva a compreender a dinâmica intersubjetiva presente no campo etnográfico. Observamos, ainda, que essa dinâmica produz alguns fenômenos centrais na natureza da reflexão antropológica, tais como fenômenos de empatia, de intuição, de emoções, de encontro, de polifonia e de polissemias. Sugerem todas essas dinâmicas, também em alguma medida, que é necessário prestar mais atenção para os efeitos da sensorialidade e da percepção no processo da construção etnográfica.