Ponencia

Estudo com/sobre adolescentes de 10 a 14 anos e Experiências Adversas na Infância (EAIs): resultados e desafios para o campo científico e político

Parte del Simposio:

SP.50: Nuevos desafíos para la antropología de las infancias a partir de las investigaciones e intervenciones antropológicas sobre y con niñes en América Latina.

Ponentes

Nicolas Kimura Generoso

Universidade de São Paulo

Cristiane S. Cabral

Faculdade de Saúde Pública - USP (Brasil)

À medida que o mundo se recupera da pandemia de covid-19, questões preexistentes ganham nova relevância, especialmente ao direcionarmos nossa atenção para a população de adolescentes muito jovens, com idades entre 10 e 14 anos, particularmente aqueles que vivem em áreas urbanas de baixa renda. Essa faixa etária atravessa uma fase crucial e complexa do desenvolvimento humano, marcada por mudanças físicas, cognitivas e emocionais, além da aquisição de habilidades sociais e construção de identidade (Freitas et al., 2005; Blum et al., 2017).
Nesse contexto, evidencia-se a vulnerabilidade desses jovens a influências externas, particularmente às Experiências Adversas na Infância (EAIs), que têm o potencial de moldar a aprendizagem e a internalização de normas sociais através de diversos canais, como família, escola, grupo de pares e mídia. As EAIs englobam uma ampla variedade de eventos prejudiciais, desde perdas interpessoais, como a morte dos pais e o divórcio, até dinâmicas em ambientes familiares disfuncionais, envolvendo problemas de saúde mental dos pais, abuso de substâncias, criminalidade e violência. Maus tratos, como violência física, psicológica e sexual, negligências, doenças, dificuldades econômicas, violência entre pares, como o bullying, e violência comunitária e coletiva, como conflitos e guerras, também integram esse espectro complexo (Andrade et al., 2022).
Compreender essas experiências é de extrema importância, uma vez que estão associadas a uma série de consequências negativas ao longo da vida. As escolhas feitas durante essa fase exercem um impacto significativo, influenciando diretamente as perspectivas e limitações na vida adulta, especialmente no que concerne a questões de saúde (Felitti et al., 1998).
O objetivo desta comunicação é apresentar resultados preliminares da pesquisa Global Early Adolescent Study (GEAS) no Brasil, um estudo multicêntrico sob coordenação geral da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (JHSPH) nos Estados Unidos (Blum et al., 2014). No Brasil, o estudo foi realizado em 2021-2022 por pesquisadores da Universidade de São Paulo (FAPESP – processo n. 2017/23177-4), com o propósito central de compreender as normas e comportamentos de gênero entre adolescentes muito jovens em ambientes urbanos empobrecidos. Apresentamos os resultados do inquérito realizado junto a 470 meninos (48,25%) e 504 meninas (51,75%), moradores de uma região periférica da cidade de São Paulo, com idade entre 10 e 14 anos. Discutimos as inter-relações entre EAIs, aprendizado, internalização e reprodução de normas de gênero em adolescentes, com especial ênfase nos possíveis impactos na saúde mental.