Neste trabalho analiso as experiências cotidianas de mulheres, na aldeia potiguara Jaraguá, que pertence à terra indígena de Monte-Mór, localizada no município de Rio Tinto, Litoral Norte da Paraíba, Brasil. Procurei observar as transações técnico-econômicas, desenvolvidas por estas mulheres no interior de ambientes diversificados, sendo estes partes constitutivas do seu território. Tais atividades são o resultado de escolhas e estratégias organizadas para atender às necessidades de grupos domésticos (grupos familiares de três gerações, com cooperação entre seus membros e obrigações de reciprocidadade), conformando propriamente uma ecologia doméstica. Os processos técnicos que constituem essa ecologia estão centrados nas experiências individuais e coletivas em manguezais, várzeas e resquícios de mata atlântica, bem como em contextos urbanos, permitindo o desenvolvimento de habilidades e a aquisição de saberes sobre técnicas e materiais bastante diversificados, a partir do aprimoramento de conhecimentos tradicionais locais. Nesses termos, tentei compreender como as mulheres desenvolvem suas atividades e se movimentam. Pude identificar que elas interpretam os encargos de gênero atualizando suas formas de participação na manutenção doméstica, articulando tarefas dentro e fora de casa. Isso se confirma com as responsabilidades que assumem no cotidiano, expressas no conjunto de decisões que precisam tomar, nos acordos que realizam com os familiares e na conciliação de tarefas. Emergem, no decorrer da pesquisa, questões relacionadas às diversas posições sociais que as mulheres da aldeia Jaraguá assumem no seu cotidiano, atuando, assim, no âmbito social, econômico e técnico que afluem para a sustentabilidade da vida, por intermédio do cuidado. O fulcro do trabalho diz respeito à ideia de que a organização doméstica é composta de atividades complementares, em que homens, mulheres, jovens e crianças assumem funções distintas, semelhantes ou iguais, que se entrecruzam. Tais saberes e fazeres parecem ser uma chave importante para o entendimento das diferentes formas de se perceber e habitar o mundo, para essas mulheres.