A Ilha de Colares no nordeste paraense se tornou mundialmente famosa pelo avistamento de objetos voadores não identificados (OVNIs) e ataques de extraterrestres. Principalmente em decorrência da Operação Prato da Força Aérea Brasileira, que investigou essas aparições na região em 1978. Justamente nesta localidade, estamos estudando segmentos afro-amazônicos (Pajelança Cabocla e Pena e Maracá), principalmente as relações mitopoéticas de seus encantados. Neste contexto, foram surgindo interposições entre as distintas perspectivas apontadas e neste interlace que objetivamos esse trabalho, identificando as relações estabelecidas pelos afroreligiosos e seus encantados com as aparições extraterrestres. Destacamos metodologicamente a abordagem etnográfica e de observação participante, que já vem sendo desenvolvida ao longo de 2023, onde foram realizadas diversas visitas a localidade, nas quais tivemos a oportunidade de conviver e participar como essas comunidades. Destacamos que este é um tema sensível e optamos por não identificar nossos interlocutores, inclusive, sendo preservado o nome de seus encantados. Em nossos trabalhos de campo, estivemos sempre atentos as questões dos extraterrestes e notamos dois principais momentos em que o assunto vinha à tona. Primeiro em momentos de descontração, em que conversavam entre si ou tocavam no assunto conosco. Sempre se reportando aos protagonistas que presenciaram os eventos e poderiam detalhar os fatos, relatando relações sociais e familiares com eles. Nessas conversas, também nos foi apontado o quanto a temática era delicada e traumática para população e que nem sempre gostavam de tocar no assunto. Contraditoriamente a cidade de Colares é toda decorada com extraterrestres. O segundo momento, se caracterizavam pelas narrativas dos encantados, que estabeleciam conexões simbólicas e espirituais entre os dois contextos, apesar de não intercruzarem barreiras conceituais, normalmente abordam a questão como coisas distintas. No entanto, destacamos que muito destes afroreligiosos estabeleceram relações mais holísticas com esse contexto, interligando encantados e extraterrestre em um mesmo processo espiritualístico. Um dos momentos que o assunto surgiu, foi quando uma das entidades, indígena, a qual denominamos de juremeira, apontou um avistamento de luzes no céu, evento visto por alguns participantes desta festividade. A encantada mencionou, de forma descontraída, serem os extraterrestres e confirmava a sua presença na ilha. Outro exemplo, foi a narrativa de uma entidade da falange dos pretos-velhos, que confirma os avistamentos e menciona ainda que estamos olhando para céu, mas que se queremos ver eles, temos que olhar para o horizonte, pois estes seres estariam também dentro da terra, intraterrenos, e com essa mudança de perspectiva, conseguiríamos mais chances de vê-los. No geral, o discurso deste segmento não é temeroso em relação aos extraterrestres, trazendo-os para um âmbito de familiaridade, que se interpõem em discursos ambientais em relação a importância de preservação e da imanência espiritual da localidade. Pois os extraterrestres estariam ali em prol de um bem maior, de ensinamento e de contribuição para com a humanidade. O que nos estabelece complexas relações que permeiam o que compreendemos como zonas de contato simbólicas, que dialogam com diversas relações de poder, intermediadas por processos hegemônicos que são interpostos pelos saberes afro-amazônicos locais.