Os territórios das comunidades remanescentes de quilombos no Brasil são caracterizados por uma experiência sócio-histórica definida a partir de uma ancestralidade negra, logo, o território deve ser pensado como produto socio temporal do trabalho humano. Dentro desta mesma lógica, a identidade cultural desses grupos não são heranças sanguíneas, mas se constrói por modos de vida que são históricos, dinâmicos e complexos, dentre estes, a luta por acesso a direitos sociais, a exemplo do direito ao território, que teve seu marco no Brasil com o decreto 4.887 de 20 de novembro de 2003, que busca regulamentar o Art. 68 da ADCT – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como, na luta por segurança alimentar, educação, lazer, acesso a água e saúde. A comunidade quilombola Sítio Cantinho de São João Batista está localizado em pleno semiárido nordestino no munícipio de Serra Branca, no estado da Paraíba/Brasil. Destacamos que o semiárido brasileiro é um dos semiáridos mais povoados do mundo, e particularmente com uma presença de comunidades negras rurais, muitas em processos de articulação socio políticas e emergência étnica que se caracteriza por um processo de autodefinição histórica como comunidades remanescentes de quilombos. O quilombo Cantinho possui uma história de fundação atrelada ao processo de concentração fundiária. Srº Severino Moreno, liderança da comunidade, nos relatou um dos mitos de fundação da comunidade, que segundo relatos orais se originou no período escravocrata, surgindo, pelo abandono das pessoas escravizadas que tornavam-se “inúteis” para esses senhores, uns pela idade já avançada e outros por mutilações ocasionadas pelas violências físicas da escravidão. Os sujeitos escravizados eram mandados para o ‘cantinho’, uma das extremidades da antiga Fazenda Serra Branca, latifúndio que se liga a história de ocupação do território do cariri paraibano e a família Oliveira Lêdo, famosa pelo domínio de grandes extensões territoriais na Paraíba. A comunidade tem na agricultura familiar o principal meio de subsistência das famílias, 67% dos moradores fazem uso da terra para o cultivo de milho, feijão, fava, melancia e jerimum e 11% divide as práticas da agricultura com a extração de madeira. No tocante a renda, constatamos que 54% das famílias que vivem na comunidade têm uma renda mensal entre 780,00 até 1.300 reais, na composição dessa renda familiar a aposentadoria rural corresponde a 21%. Em relação as condições de acesso à educação formal e o grau de escolaridade da população um percentual muito pequeno chega ao ensino médio e ao ensino superior. Os dados da pesquisa foram levantados a partir de diário de campo e questionários censitários. Concluímos reafirmando que o território é a chave que aciona a emergência de um sentimento de pertença, fundamental na construção da identidade étnica. Os sujeitos se pensam inicialmente como pertencentes a um lugar, onde seus avos, pais e ele mesmo com seus filhos vivem, deste modo, um grupo étnico é uma comunidade política-organizacional produzida a partir de certas interações sociais que possuem um caráter dinâmico, dando forma as muitas ruralidades na sociedade brasileira.