Ponencia

Educação, territorialidade e relações interétnicas no Rio Negro: os sentidos da escola, a formação da comunidade e o projeto de autonomia frente aos patrões.

Parte del Simposio:

SP.57: Procesos educativos en ámbitos escolares, familiares y comunitarios: continuidades y transformaciones

Ponentes

Sidnei Peres

Universidade Federal Fluminense

Este trabalho pretende discutir a implantação da educação escolar juntos aos povos indígenas no Médio Rio Negro, Amazonas, considerando a historicidade das relações interétnicas e os processos de formação das comunidades. Propomos uma reflexão sobre educação intercultural e específica que não se restrinja a sua dimensão normativa, que muitas vezes pode gerar políticas públicas e legislações que homogeneízam a diversidade de situações concretas e de interesses dos sujeitos indígenas pela educação escolar. Em tais casos, direitos conquistados podem se transformar em projetos impostos autoritariamente. Sendo assim, é fundamental conhecer e compreender os sentidos que a escola tem para os sujeitos, que foram se constituindo em distintos contextos históricos de relações entre a escola e as famílias e estudantes indígenas. No Médio Rio Negro, a existência de uma escola é fundamental para a definição indígena de um lugar como “comunidade”, onde se escolhe viver entre parentes em contraposição a trabalhar para patrão, sob “a escravidão da dívida”. Portanto, a escola se insere em um conjunto de conflitos (terra / trabalho e uso dos recursos naturais), remete a projetos de autonomia frente aos patrões (e ao seu domínio territorial, monopólio comercial e subordinação pessoal), cuja contradição condiciona as possibilidades de reprodução social de um modo de vida coletivo e afirmação de territorialidades específicas. A educação escolar neste cenário interétnico deve ser entendida considerando três configurações sociais que articulam diferentes agentes, práticas e representações: os centros missionários salesianos, o regime de aviamento e o associativismo indígena.