Ponencia

Eco-po(éticas) do cuidado: filmando os remédios do mato e a roça guarani nhandeva.

Parte del Simposio:

SP.62: Antropoéticas: As grafias enquanto gesto político, ético e poético.

Ponentes

Ana Lúcia Ferraz

Laboratório do Filme Etnográfico - LAB/ Universidade Federal Fluminense - UFF

Brazil (Brasil)

Os Guarani Nhandeva das Retomadas do Mato Grosso do Sul reconhecem uma série de presenças e agências em seu território ancestral, o Tekoha Guassu, terra de caminhadas entre os diversos grupos de parentesco que habitam os dois lados da fronteira nacional. A partir do diálogo etnográfico mediado por processos de produção de vídeo na região, realizo um trabalho de reconhecimento dos saberes das mulheres guarani em relação à terra e à diversidade de espécies endêmicas utilizadas como remédios pelos guarani. O trabalho nasce no contexto da pandemia de Covid19 e continua na valorização dos saberes das anciãs e suas formas de selecionar espécies que são cultivadas nos pátios das casas. Entre a mata, a roça e o pátio, podemos identificar poéticas do cuidado da terra, dos corpos e da saúde guarani nhandeva. Os saberes fitoterápicos configuram uma medicina própria que se articula considerando as relações com a terra, com a vegetação e com todos os seres visíveis e invisíveis presentes no grande território guarani.
Configurando cosmopolíticas guarani pretendo situar o tema das relações de alteridade no centro da atenção das práticas sociais na etnografia da vida numa aldeia retomada na linha de fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai. Como Stengers (2010), o trabalho busca incluir os não humanos na política, entendendo as táticas guarani nas relações com o mundo do branco e as práticas referentes ao universo do jerojy, o canto-dança, os usos e classificações das plantas e alimentos, os resguardos e seus chás, na produção de corpos propriamente humanos. Com os Nhandeva viso entender uma po(ética) do cuidado com o corpo, com o outro, com a terra. É o grande território, o Tekoha guassú, invisibilizado pelas fronteiras nacionais, pela propriedade privada e a burocracia de Estado, que queremos dar a ver acompanhando as caminhadas de um grupo de parentesco na recuperação de terras e de conhecimento dos outros dos guarani.