Ponencia

Desenhar o som, remixar futuros: políticas sônicas no funk carioca

Parte del Simposio:

SP.64: Prácticas de futuro a través del arte: pensando comunidades, ritualidades e imaginarios compartidos

Ponentes

Dennis Novaes

PPGAS / Museu Nacional - UFRJ

O funk é um dos gêneros musicais mais populares nas favelas do Rio de Janeiro e no Brasil como um todo. Produzidas a partir de bases economicamente precárias e lidando com um cotidiano militarizado onde a própria sobrevivência é incerta, as músicas produzidas nestes territórios podem ser pensadas enquanto “ficções sônicas”, contra-narrativas que imaginam outros futuros possíveis para a população negra ao redor do globo (Eshun 2003). O trabalho aqui apresentado é fruto de pesquisas realizadas pelo proponente entre músicos de favelas do Rio de Janeiro nos últimos dez anos e busca refletir sobre o modo como artistas de funk, através de um uso tecnológico diferenciado, desenham futuros e reinscrevem sonoramente a diáspora africana em suas produções musicais. A partir de pesquisa etnográfica em favelas cariocas, pretende-se abordar os processos criativos destes artistas, os recursos tecnológicos que mobilizam, sua conexão com a vida cotidiana nas favelas e como essas musicalidades operam uma cronopolítica ao reinscreverem no presente outros futuros possíveis para a população negra.
Um caminho para pensar a conexão entre estas musicalidades e as comunidades onde são produzidas é atentar para a prática do remix. A noção contemporânea de remix tem origem na música e ganhou popularidade a partir das experimentações radicais feitas por DJs de hip-hop nos anos 1970. Ao recortarem e sobreporem fragmentos de determinadas músicas para criarem objetos sonoros “novos”, os DJs de hip-hop levantaram debates acerca de questões como criatividade, autoria e propriedade intelectual, entre outras. Essas técnicas de (re)mixagem anteciparam de certa forma uma série de práticas que se disseminaram no século XXI, ao mesmo tempo em que renovaram discussões sobre conceitos mais antigos como o de “bricolagem”. Em um sentido amplo, como afirma Eduardo Navas (2018), o remix pode ser definido como o reciclar e ressignificar constante de coisas materiais e imateriais. Partindo desta definição geral, podemos pensar o remix como constituinte de todo processo criativo.
Para desenvolver considerações formais sobre os diferentes estilos de funk me aproximo da noção de estilo apresentada por Alfred Gell tanto em Art and Agency (1998) quanto em The Art of Anthropology (1999). De acordo com o autor, o estilo se constitui como “relações entre relações” de formas, nas quais os objetos de arte precisam ser compreendidos em suas características formais compartilhadas com outros objetos de arte. Isto porque as diferentes práticas artísticas não seriam apenas o repositório de proposições simbólicas acerca do mundo, mas formas de ação que visam transformá-lo (Gell 1998, 6). A partir destas reflexões, o trabalho aqui apresentado tem como objetivo refletir sobre os diferentes estilos produção musical no funk cariocas e o que eles desenham enquanto futuros possíveis para as comunidades onde foram criados.