A Dermatite Atópica (DA) é a doença inflamatória cutânea mais comum no mundo, caracterizando-se por lesões e prurido intenso, e apresentando impacto psicossocial substancial na vida dos sujeitos afetados. A predisposição genética, os fatores ambientais e a desregulação do sistema imunológico são alguns dos componentes críticos da DA. Assim como em outras regiões, sua incidência na América Latina vem aumentando nos últimos anos. Embora existam várias Diretrizes de Prática Clínica (DPC), muitas de suas recomendações não consideram as particularidades sociais, políticas, culturais, raciais/étnicas e geográficas daqueles acometidos pela doença. A maioria dos critérios de diagnóstico e diretrizes de tratamento disponíveis baseiam-se nas populações europeias e norte-americanas. Ainda que haja um consenso entre a comunidade médica sobre a alta prevalência da DA em pessoas de pele negra, existem poucos dados sobre a eficácia das terapias para esses grupos, demonstrando que a farmacocinética de medicamentos e os efeitos adversos em diferentes fisiologias da pele são negligenciadas pelos estudos biomédicos. A DA possui atualmente múltiplas terminologias e muitos critérios diagnósticos, o que dificulta a padronização e a coleta dos dados sobre a doença. Com isso, os padrões de cuidado e tratamento variam amplamente. Nos últimos anos, a enorme quantidade de DPC gerou revisões sistemáticas para avaliar sua qualidade. Estas revisões mostraram que muitas diretrizes têm recomendações divergentes, com aplicabilidade limitada e/ou apresentam dados incompletos. Várias DPC têm sido criadas para incluir considerações específicas sobre a América Latina, denunciando a falta de dados epidemiológicos, étnicos e socioeconômicos particulares de suas populações e ressaltando-os como elementos importantes para o diagnóstico e tratamento. Importa mencionar que, até o momento, a DA não possui cura e seu tratamento é direcionado ao controle dos sintomas, seguindo uma abordagem multifacetada e gradual, adaptada de acordo com a gravidade da doença. A falta de dados epidemiológicos locais e de profissionais especializados na gestão da DA, o alto custo dos medicamentos e as diretrizes pouco eficientes para o contexto latino-americano certamente podem interferir em uma boa abordagem terapêutica. A questão da disparidade na saúde engloba, além da perspectiva racial/étnica e sociopolítica, diferenças no acesso ou na disponibilidade de tecnologias e serviço médico especializado. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo analisar a aplicação de teorias/conceitos elaborados a partir de um Norte global para a lida cotidiana com a DA, destacando especialmente as múltiplas desigualdades no que se refere ao processo de saúde-doença da DA na América Latina, bem como analisar as ponderações dos médico-pesquisadores latino-americanos em contraponto com a realidade prática daqueles acometidos pela doença. Se considerarmos que a América Latina tem mais de 660 milhões de habitantes que vivem em 33 países, com diferenças expressivas entre si e em seu interior com relação ao clima, cultura e economia – representando, também, uma enorme diversidade racial e étnica –, é preciso analisar quais foram os tópicos imprescindíveis levantados por esses pesquisadores como critérios de inserção da diversidade latino-americana nas diretrizes e em como estas levam em consideração as experiências individuais e subjetivas da DA.