O desenho como parte da narrativa antropológica é uma forma disruptiva de implicar o autor com toda sua corporalidade, ética, política e ambiente ao texto. “Desenhando antropologias” foi uma atividade de extensão em que ocorreu uma série de cinco oficinas ministradas por pesquisadora/es discentes do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – dentre eles, o autor e a autora do presente trabalho. Cada encontro teve uma temática, exercícios práticos, discussão e reflexão antropológica próprias e de acordo com as pesquisas ou interesses desenvolvidos por cada ministrante. “Guerra de estilos: linha, traço, identidade e originalidade na escrita urbana”, ministrada por Matheus Silva, em que se discutiu como se dá o processo de singularização e diferenciação da arte/artista e como a antropologia pode nos auxiliar a entender os contextos de produção de grafitis e pixações; e “O desenho e a primeira pessoa (algumas dúvidas sobre perspectiva)”, ministrada por Júlia Mistro, em que através da análise de técnicas de desenho sobre perspectiva, com a contribuição das reflexões suscitadas pelo fazer autoetnográfico, buscou refletir sobre a relação entre o desenho e seu autor. Como desdobramento da atividade, das trocas e reflexões por ela suscitadas, surge esse trabalho que se centraliza na seguinte questão: quais as implicações de considerar desenho enquanto parte do texto antropológico em nossa produção de saberes? Com aporte teórico articulado com atenção especial às noções de corpo e pessoa, cruzamos com o levantamento bibliográfico que relaciona desenho e técnicas de pesquisa na antropologia consideramos esse modo de engajamento com o mundo – o desenho – mais do que uma técnica de pesquisa, porque quando inserido na narrativa antropológica tem a possibilidade de trazer consigo toda corporalidade do autor e a situacionalidade de sua produção de saber. O desenho antropológico, como parte da narrativa, pode ser uma forma disruptiva de expressão ética e política da primeira pessoa, onde corpo, sensibilidades e ambiente encontram-se imbricados ocasionando uma objetividade relativa do saber produzido – portanto localizado.