A presente proposta se situa no âmbito da minha pesquisa de doutorado, mais especificamente, na pesquisa de doutorado-sanduíche no país que realizei na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, durante março e setembro de 2023. Trata-se de uma pesquisa científica que pretende contribuir, a partir da etnografia, para a compreensão sobre como se dá o acesso legal à maconha medicinal. Nesse sentido, procurei compreender as dinâmicas locais de acesso, tendo como finalidade comparar as dinâmicas práticas e os contornos sociais que elas adquirem nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. No processo da realização da pesquisa, realizei entrevistas com os principais envolvidos nesses casos: advogados, os pacientes, familiares, médicos e ativistas. A partir dessas entrevistas comecei a perceber como meus interlocutores mobilizavam a categoria “correr atrás” em seus discursos e ao explicar as dinâmicas e os dilemas no acesso legal à maconha no contexto estudado. Esses interlocutores não se restringem somente aqueles pacientes que “entram na justiça”, através do Habeas Corpus, para conquistarem o direito de cultivar a maconha e produzir o remédio artesanalmente, mas também familiares e pacientes, que procuram ter o acesso legal ao medicamento de outras formas, como por redes de solidariedade entre pacientes e demandas na justiça para que o Estado custeie o medicamento. Dessa forma, lanço o olhar para o fenômeno recente do uso do Habeas Corpus como instrumento jurídico para a garantia do direito à saúde, reivindicando a produção artesanal do remédio, isto é, do óleo de maconha, através do cultivo doméstico. Por outro lado, apresento os dilemas daqueles pacientes que têm buscado outros caminhos para acessar a medicação, escolha essa muitas vezes relacionada à visão que eles possuem sobre o sistema de justiça local. Nessa proposta, pretendo, portanto, focar nesse recorte, qual seja: os diferentes sentidos que meus interlocutores de pesquisa atribuem ao “correr atrás” e como essa “categoria-ação” constrói o acesso à maconha e seu uso terapêutico. A partir da pesquisa descreverei o emaranhado de relações sociais estabelecidas para a “entrada na justiça”, assim como os dilemas e dinâmicas no acesso ao medicamento. Assim, busco aprofundar a compreensão acerca da reclassificação da maconha e suas implicações para o sistema de justiça e o exercício da cidadania no Brasil.