As situações de adoecimento, com mais ou com menos gravidade, é uma realidade posta a todos os povos. Porém a forma de lidar com esta situação assume contornos distintos em diferentes sociedades, aja visto que o significado das doenças e do adoecimento são construídos socialmente, bem como a maneira de lidar com as dores que este processo traz (Helman, 2003). Ciente desta realidade é que proponho apresentar como a doença é vista, vivida e sentida em dois universos distintos – na Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG) e no Curso de Licenciatura em Educação Intercultural, do Núcleo Takinahaky de Formação Superior Indígena (NTFSI) da Universidade Federal de Goiás (UFG). É do lugar de pesquisadora/voluntária envolvida entre esses dois mundos que proponho analisar em que medida, esses dois universos, se intercruzam ou se excluem as práticas de cuidado, de auto atenção e de autocuidado. E qual a relação existente entre estas práticas e o modo social de lidar com as doenças, a dor, a corporalidade. Tendo como ponto de partida as pesquisas realizadas nestes dois universos, proponho mostrar como as pessoas expostas a situações de vulnerabilidade e sofrimento social respondem às demandas relacionadas a adoecimentos. Trazendo relatos das vivências em campo, mostrar que, nos dois universos, quando a situação financeira não garante condições de acesso a tratamento médico-farmacêutico, os laços de parentesco, vizinhança, compadrio asseguram os cuidados necessários. São também as experiências de campo que permitem apresentar a mistanásia (Anjos,1989) como uma realidade muito próxima, e apontar as redes alternativas de cuidado, de auto atenção e autocuidado como uma forma de insurgência, em um mundo que prega individualismo, indiferença, disputa. Estas redes alternativas acabam sendo respostas ao sofrimento, ao desconforto e ao adoecimento. São estratégias de atenção, cuidado, apoio e proteção. Se tornam mecanismos para enfrentar, resistir ou transformar condições de vulnerabilidade e exclusão social.