Desde os espaços mais críticos ao encarceramento até os mais normativos e punitivistas no Brasil, a família ocupa um espaço de constante disputa de narrativas, seja pelos discursos que a criminalizam ou pelos que a compreendem como agentes principais para a manutenção da sobrevivência no cárcere. A maioria das pessoas que visitam as penitenciárias do estado do Ceará são mulheres que têm netos, filhos, irmãos e maridos no sistema, cada uma se desdobra para caminhar e, como se diz pelas próprias mulheres, puxar a cadeia com os familiares que amam. As namoradas, esposas e companheiras vivenciam uma relação específica que envolve acordos de lealdade pelo caráter romântico das relações conjugais cujo um dos atravessamentos é o cárcere. Assim, essas mulheres assumem diferentes responsabilidades que as diferem de relações estabelecidas fora das prisões. Além disso, também é percebida as formas de classificação dessas mulheres como “mulher de bandido” e “guerreiras” por pessoas que fazem parte das redes de relações em que elas estão inseridas. Para isso, identifico as narrativas de vidas das mulheres a partir da compreensão delas do que é ser mulher e ser “mulher de um homem preso”, como as relações reproduzem laços familiares, mobilizam ações, conflitos e situações diversas para suas vidas. As histórias dos relacionamentos afetivos-conjugais das interlocutoras dessa pesquisa têm inícios diferentes, cada uma a seu jeito, mas todos se encontram em atravessamentos de raça, gênero e território que também são determinantes para o encarceramento em massa, como a precarização das condições de vida. É possível perceber que a circulação das mulheres pelas cidades criam uma rotina determinada pela gestão da prisão que comunicam também sobre o impacto das articulações das mulheres no cotidiano prisional. Por meio da movimentação das mulheres, as prisões assumem contornos e significados que nos contam sobre a prisão e o encarceramento no Ceará, principalmente sobre o “fazer família” em condições de encarceramento em massa.