Ponencia

Como se fazem biomarcadores de transtornos mentais? Notas de pesquisa

Parte del Simposio:

SP.20: Problemas, debates y desafíos actuales en el campo de la antropología de la salud latinoamericana

Ponentes

Arthur Maccdonal

Universidade Federal do Rio grande do Sul - UFRGS

O presente trabalho pretende oferecer uma discussão preliminar acerca do coletivo que se reúne hoje ao redor da produção de biomarcadores dos transtornos mentais. Para tanto, elabora um campo problemático onde pesquisas científicas contemporâneas, que se ocupam da identificação destes marcadores, atualizam o velho debate psiquiátrico acerca dos determinantes biológicos da loucura. Em seguida, sob o pano de fundo das reflexões foucaultianas sobre loucura e poder psiquiátrico, em sua relação com os Science Studies, e inspirando-se no trabalho de Hans-Jorg Rheinberger (2000), a pesquisa pretende explorar como os vários elementos que organizam técnicas, experimentações e conceitos científicos, nos mostram os novos arranjos entre as práticas biomédicas contemporâneas e suas materialidades.Segundo Rheinberger, as conquistas epistêmicas fundamentais do início da história da biologia molecular estão atreladas a duas condições: A primeira diz respeito à migração do interesse de pesquisa para elaboração de modelos de sistemas biofísicos, bioquímicos e genéticos simples, como bactérias, vírus e macromoléculas. A segunda, diz respeito ao desenvolvimento tecnológico no âmbito da biofísica, bioquímica e genética, como a cristalografia de raio X, ultracentrifugação analítica, cromatografia dentre outras. Assim, se quisermos observar o processo de estabilização de moléculas, genes e de quaisquer outros biomarcadores, precisamos orientar nosso olhar à coprodução das teorias científicas e das técnicas. Pois ao nos voltarmos sobre o espaço de tradução entre a técnica, experimentação e a elaboração de conceitos científicos, poderemos obter outras imagens da relação entre saber/poder a partir daquilo que se faz antes de um biomarcador tornar-se um fato científico. Neste cenário, sangue, proteínas, equipamentos laboratoriais e algoritmos se articulam em uma crescente infraestrutura que, ao instaurar novas condições de experimentação científica, aponta para algumas características dos regimes biopolíticos contemporâneos. Além de nos oferecer uma imagem de novas configurações do humano, através da descrição detalhada das vias e dos percalços que hoje precisam tomar os pares de algumas de nossas categorias antropológicas fundamentais – natureza/cultura, razão/desrazão, saúde/doença, normalidade/anormalidade – a fim de renovarem sua vitalidade ou indicarem seu próprio esgotamento diante da emergência das formas de vida contemporâneas.